quinta-feira, setembro 29, 2011

Campo de Força; indução eletromagnética (explicando a Ciência com sensibilidade) guacira maciel

Estou sempre muito envolvida na busca dos porquês das coisas para tentar compreender um pouco a vida e os elos existentes entre elas, e evidenciar a natureza única que somos todos.
Assim, continuando a percorrer esse caminho, cujo objetivo é mostrar que Ciência e Arte não são coisas diferentes ou estranhas uma à outra, ficando esta última restrita ao universo do imaginário, e que a Natureza é regida por leis gerais aplicadas a todas as dimensões, sendo suficiente apenas, que busquemos os elos que as tornam única e mais, a percepção de que o belo está na gênese de todas elas, me deparei com os campos de força e, como sempre, fiquei perplexa... Primeiro tentarei com a minha compreensão da Arte, dar uma explicação prévia sobre isso tudo e depois partirei para a similaridade encontrada através de um olhar ousado, sem amarras, que permite ampliar essa compreensão, pois acredito que a ciência não faria sentido se não encontrasse eco na nossa necessária forma de estar na vida. Segundo Michel Faraday (1791 -1867) a idéia de campo de força, destaca a “importância fundamental das prioridades físicas e geométricas do próprio espaço e se caracteriza pela força que ele exerce na partícula eletrizada, em movimento”.
A partir daí pode-se compreender que o Universo seja formado por partículas (que sempre geram em torno de si algum tipo de força). Essas partículas são centro de volume e espaço e as forças de atração ou repulsão agem através delas, sendo que sua intensidade ou capacidade de interação diminui ou aumenta tomando como parâmetro a distância compreendida entre elas; esse “lugar” no espaço é definido como CAMPO DE FORÇA (localizado entre volume e espaço), e atuará e influirá interagindo com outro, dentro do campo próximo ou distante (espaço); assim, campo de força são as partículas atuantes que se localizam no espaço existente entre aquele objeto e a sua distância de outro, ou no volume de espaço em volta deles.
Logo, campo de força é o volume de espaço que há entre as partículas, sendo que as interações entre elas ocorrem de acordo com as intensidades de cada uma. Assim, uma partícula (eu), e fonte de campo de força, sempre responderá a um campo criado por outra partícula semelhante (o outro). Quero reiterar duas coisas: uma, é a compreensão de que jamais estamos isolados no Universo, nunca estamos sós; outra é que somos parte de uma Natureza única (energia), interagindo como forma de ampliação e possibilidade de interação... por isso, o que entendo ser um olhar quântico, como o seu próprio princípio, é um olhar de possibilidades: é possível que, em havendo uma força de atração em torno de um volume que propicie a aproximação, isso possa ocorrer. Entretanto, apesar de fazer parte de uma mesma Natureza, não haverá interação entre as partículas (eu e o outro) se as mesmas estiverem, como descreve a ciência, isoladas numa distância tão grande que os campos de força de ambas não possam se responder mutuamente (porque o volume de espaço terá aumentado em demasia).Essa compreensão está de acordo com a teoria geral da relatividade proposta por Einstein (que ainda continua valendo), que incorpora o efeito da gravidade, segundo a qual a “distribuição de matéria e energia no universo deforma e distorce o espaço-tempo, fazendo com que não seja plano”; assim, embora os objetos nesse espaço-tempo tentem mover-se em linha reta, na verdade se movem afetados pelo campo gravitacional.
Utilizando essa lei da ciência, como de resto todas as outras, em todas as dimensões, pode-se perceber a verdadeira teia da vida; não há diferença alguma entre elas, porque não somos parte da Natureza, somos a própria Natureza; compomos uma única e ampla ecologia (uma única energia)!
Pode-se perceber e explicar que as leis que regem a vida, sob todos os aspectos não diferem umas das outras. Neste caso específico estaria explicado por que, no distanciamento, as relações tendem a se findar, visto que, o campo semelhante se teria afastado demasiadamente. Sendo partículas (eu e o outro), fundamental é que ocorra a interação através das linhas-de-força (o espaço, a distância ou os liames), para que se mantenham as relações no espaço em que atuam, e não uma fusão, porque a integridade de cada uma precisará ser mantida, podendo assim, se ampliar e enriquecer nesse contexto, como ocorre também nas relações entre os seres; é preciso que a identidade de cada um seja preservada, ou se findariam as possibilidades...
Mas essa lei de atração e repulsão entre campos semelhantes, também pode nos referir quanto à atração entre opostos (diz-se que “os opostos se atraem”, nem tanto...), como estamos acostumados a ouvir quanto às relações pessoais; entre eles existe, sim, como entre todos os corpos, uma “química”, uma lei da Física que tende para a atração, embora nem sempre isto ocorra, porque não se mantêm suficientemente próximos, como ocorre aos semelhantes; tomemos como exemplo, os pólos extremos do planeta terra. Eles se atraem, apenas, com o objetivo de manter íntegro o necessário espaço para que exista o volume ou massa (grosso modo) que constitui a integridade do planeta; e tão longe, através das mesmas linhas de força, que não haverá como ocorrer uma fusão, conforme explica a lei de atração e repulsão. Caso contrário, pensemos, o que poderia acontecer se os pólos da terra tivessem seu campo de força tão diminuído, que terminassem por se encontrar? Só posso imaginar que a terra se achataria... o mesmo processo acontece com pessoas, cuja distância estabelecida pelo campo de força é tão extenso (garantindo a necessária distância existente entre ambas), cujo universo pessoal ou micro mundo está tão longe do outro que não se comunicam, não se aproximam, lhes sendo, tão somente, permitido o poder de sedução que essa condição impõe e assegura; o campo de força as mantém afastados; no entanto, caso se desse uma fusão, ainda que momentânea, poderia ocorrer um choque, que mudaria seu sentido de existir e sua trajetória própria.
O que posso deduzir é que, como opostos que precisarão assim permanecer (como os pólos extremos da terra), algumas pessoas deverão compreender a necessidade de existir da força de atração e repulsão, somente enquanto possibilidade, cuja missão seria, creio, assegurar o necessário cumprimento das leis que regem o Universo. E, uma vez que a Natureza é una, todos os seres estão nelas incluídos de forma igual, ainda que mantidos à distância, até para assegurar sua própria integridade e razão de existir.

domingo, setembro 25, 2011

Degustando meu próximo livro, "Cruz do Meu Rosário..."

Os filhos de Marta e Carlos costumavam, junto com alguns primos, passar as férias na ancestral fazenda. Em registro encontrado numa velha caixa, assim se referiu a penúltima filha do aventureiro casal:





___ Quando criança ia passar férias lá na fazenda e me lembro como se ainda estivesse diante dos meus olhos, da reprodução de um retrato a bico de pena desse senhor bigodudo - Duarte Pacheco Pereira - que mais me amedrontava, pois não sabia o que, exatamente, fazia ali na parede daquela misteriosa sala. Mas isso parecia já não ter a menor importância, mesmo porque esse capítulo da nossa história subjaz a versão da história oficial...
O velho solar ancestral construído sobre uma elevação que lhe conferia certa imponência, era tão fantástico com aquela infinidade de janelas azuis (ou verdes?), cujos peitoris assentados sobre paredes de 1.00m de largura, acomodavam deitado o meu corpo de criança, onde gostava de ficar a sonhar. Acho que já existia em mim, de forma latente, o gosto pela arte, pois comumente estava fora da realidade do que ocorria à minha volta; me sentia uma sinhazinha em seu “feudo”, instalado nos velhos salões em desuso, da parte de trás do assombroso ( e "mal assombrado") casarão, com o assoalho já carcomido em sua parte central e que, ao sentir o peso dos nossos corpos correndo ao brincar de esconde esconde, gemia pedindo sossego.
Lá, brincava com irmãos e primos e às vezes, como me distraia encarnando algum personagem de outra época, que vivia nas histórias que ouvia das minhas tias e empregados, e também no meu vivo imaginário, nunca era encontrada, ficando para trás nas brincadeiras. Quando dava por mim estava sozinha e com medo dos fantasmas que os supersticiosos diziam morar por ali. Os que via – não apenas imaginava – não eram fantasmas; mas lindas mulheres, sendo eu mesma uma delas, rodopiando em vestidos de seda parecendo verdadeiras borboletas emergindo das vaporosas saias sustentadas por anáguas com aspecto de asas coloridas; os colos cintilantes com as pedrarias ostentadas, elas imitavam pombas arrulhantes, corando aos elogios dos seus admiradores - bem, não sei se seria assim, verdadeiramente, já que entre essa época e agora, quando resolvi registrar essa história, já se passou muito tempo e poderei estar descrevendo uma imagem acrescida de outras experiências, leituras, filmes (inclusive imagens, por exemplo, de “E o Vento Levou...), e mais aquela impressão que a gente tem quando olha para um passado tão puro vivido na nossa infância - .
Um pouco abaixo, fora do casarão, ao seu lado direito, ficava o curral, onde, pelas quase madrugadas, ainda de pijamas de flanela iamos todos beber leite cru “pra ficar forte”, quando me punha a observar, encantada, o azáfama dos vaqueiros sob a orientação de Ernesto, neto de escravos do antigo Engenho. O velho vaqueiro mor distribuía as ordens em lamentoso tom de voz, remanescente, talvez, das lembranças retidas na sua memória, sobre o dia-a-dia da senzala, cujas casas, já em ruínas ainda conheci, habitadas por velhíssimos descendentes de escravos que não tiveram outro lugar para morar após se verem livres do vergonhoso estado de escravidão em que foram jogados.
Mas como desconhecia todas essas mazelas na pureza da infância, achava doce adormecer na fazenda. As lembranças do ocaso contêm ainda hoje o som da brisa fresca nos canaviais e o cheiro doce da cana-de-açúcar ao receber o bafejo dos ventos noturnos; dos gritos dos vaqueiros colocando o gado dentro do curral para passar a noite; do canto dos grilos e dos sapos – a mim, me sabia a canto – além, lá pelas tantas, dos barulhos do velho casarão, feitos por seus ativos habitantes noturnos; alguma coisa entre ratos e fantasmas, personagens das histórias contadas pelos empregados, sobre escravos arrastando grilhões e entoando cânticos saudosos que falavam da sua terra natal, de onde haviam sido brutalmente arrancados pela ganância e o desrespeito, muitas vezes com a conivência do seu próprio povo.
O amanhecer, não menos gostoso, exalava um cheiro que prenunciava as delícias que teríamos ao fartíssimo café . Aliado àquele barulho tão característico, ouvíamos ao longe o burburinho da lida dos empregados. O ranger musical do carro de boi transportando a cana recém ceifada dos pés, ao ritmo cansado da parelha de animais, e o chiar das palhas se arrastando malemolentes no chão por onde o carro passava entre buracos e saliências do barro vermelho do massapé, a caminho da usina; dos gritos dos vaqueiros separando o gado para levar aos pastos; dos bezerros gritando por se verem afastados das gordas tetas de suas mães, que agora teriam outras bocas para alimentar. Mas da cozinha...ah!...dali vinha o melhor de todos os barulhos e cheiros, como aquele do café que em breve agasalharia os nossos ávidos estômagos de crianças, com banana frita, queijo caseiro, cuscuz, beiju na manteiga, coalhada e outras delícias.
Meu avô materno era poeta e grande apreciador da música e da boemia, tendo gastado grande parte da sua fortuna pessoal ao promover festas durante as quais hospedava, e nutria, em sua própria casa toda a orquestra, que mandava vir de fora, para desespero de sua submissa esposa e felicidade da prole. Era um homem de letras e tinha um especial olhar sobre a vida.
De sua esposa, minha enigmática avó materna, pouco tenho a dizer, pois encarnava o papel da simplória matrona, apesar do nível social ao qual pertencia, que passou o pouco tempo que viveu a cuidar dos dez filhos que gerara, oferecendo o necessário sossego ao senhor seu marido, para que pudesse exercer o cargo de respeitável juiz de comarca. Morreu jovem, deixando pequenos alguns dos dez filhos, que ele, sozinho, teve grandes dificuldades em criar. Em consequência disso, espalhou-os entre a família como quem o faz com uma ninhada de gatos, o que nunca pude entender muito bem. Entretanto, quero crer que tenha sido menos por desamor e mais por absoluta incapacidade de realizar a árdua tarefa, uma vez que às mulheres sempre coube esta missão".

segunda-feira, setembro 19, 2011

Cópula infinita (guacira maciel)

E entregam-se
céus e terra
na grandeza das águas
à cópula infinita...
acolhendo a energia que destila o sol
na perene cavalgada
sob a suave luz da lua
Eva esvai-se
combinada ao elixir da imortalidade
liquefazendo-se ouro...
e correm pelas veias do dragão
refinados
os três tesouros

na eterna alquimia
energia

vida
e alma...

sábado, setembro 17, 2011

Varanda alta (guacira maciel)

É uma tortura tê-lo guardado lá, naquela varanda alta da nossa adolescência, cabelos dourados como o sol, cuidadosamente penteados; um príncipe encantado e quase triste, de calções, sem roupa de gala, espada e, principalmente, sem cavalo branco, mas um príncipe.
Gostaria de poder tirá-lo daquela varanda adolescente e levá-lo para minha infância, amor de infância é mais suave, não dói tanto; acho que é porque a gente não tem ainda os hormônios que mobilizam as emoções, explodem tudo, gravando a ferro e fogo as imagens no coração.
Mas decidi despedir-me da varanda. Quero esvaziá-la e sair rápido, sem olhar pra trás, como se sai de uma velha casa em ruínas, onde a gente passou toda a vida e da qual, agora, está sendo despejado; uma saída compulsória, porque ela já não tem condição de abrigar nada. Mas para isso é preciso expulsar um morador antigo, que se instalou lá naquela varanda alta e é mais teimoso do que eu.
Como abandonar a velha morada se lá existe alguém que não quer sair? Tudo está desmoronando ao redor, mas o teimoso coração, como a casa, insiste em se manter abrigo, ainda que tudo seja desabrigo: janelas fechadas como olhos baços pela ausência, (dizem que eles são as janelas da alma); encanamentos enferrujados por falta do correr impetuoso da água em seu interior, as pobres válvulas com suas roscas aluídas, já não mantêm a necessária pressão; os móveis, o sofá da sala, que já acolheu corpos jovens, dilacerado expondo vergonhosamente suas entranhas; e o jardim? este, já não tem canteiros floridos, grama úmida e fresca, mas galhos secos retorcidos, como garras.
Só ficou teimosamente verde e viva a velha árvore (que pode nem ter existido), agora cabide de todas as lembranças. Ela, sim, ainda abriga flores, frutos e pássaros que vêm a cada primavera, como a esperança, qual uma promessa ainda não cumprida. Isso, porque possui raízes fortes e profundas fincadas no jardim lá daquela casa com varanda alta, da nossa adolescência, que por instantes pareceu voltar impetuosa, latejando e derramando sangue novo, como artérias desobstruídas após a quase-morte, trazendo vida e flores, e frutos, trazendo novas cores, vento fresco e muito azul.
Como trancar a velha casa de varanda alta, sair silenciosamente, para evitar que o velho morador, teimoso, volte ao aconchego do antigo abrigo?

domingo, setembro 11, 2011

Sintágma (guacira maciel)

Radicalmente arbitrário
o sinal verde
mas o azul ao contrário
arbitrário relativo
tem um ponto positivo
mesmo sofrido e doído
se
relativamente motivado
azul ou verde não importa
cedo ou tarde será prado
e então terá valido
vai é oposição de vamos
mude-se a idéia a exprimir
não buscando exatamente
a unidade buscada
outras tantas hão de vir.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Desordem... (guacira maciel)

Lá atrás já falei de uma (des)ordem. Mas esta aqui é desordem mesmo, confusão...
Estou assim, confusa. A muitos dias que pego o meu velho caderno (o meu muro de lamentações), para tentar dizer coisas que me vêm incomodando, mas não era chegada a hora; sempre fechava-o, porque nada tinha coerência e ainda não sei se tem...
O assunto principal é você! Você mesmo; você que bagunçou a minha vida, que entrou nela sem ser convidado, me tirou o chão, e ocupou cada espaço, cada minuto dela por tanto tempo, sempre com o mesmo encanto, a mesma doçura, a mesma delicadeza e a mesma mentira. Esta ultima palavra é terrível de dizer junto às demais; ainda não a aceito.
Sabe o que me ocorreu? Lembrei que li em algum lugar sobre dois corações... e você parece ter dois corações. O primeiro, que conhece todos os caminhos que levam à minha alma, é quente como um pequeno abrigo onde parece haver sempre uma lareira acesa, como nas descrições dos romances vitorianos. Nesse coração o fogo está sempre estalando e explodindo em labaredas dançantes, que lembram pequeninas línguas. Esse coração mantém a porta sempre aberta e me recebe sempre aos saltos, como na primeira vez.... Esse coração foi privilegiado por mim; dei-lhe toda atenção, talvez porque ainda não conhecesse o seu outro coração. No primeiro morou um amor tão especialmente mágico, que o simples fato de poder imaginar ser um dia lembrado como um sentimento diferente me faria ficar infeliz.
Mas o seu outro coração, que acabo de conhecer, é cruel, é frio como gotas de gelo. Será que você existiu mesmo? Teria sido você um homem real? Por que isso me incomoda tanto? Sabe como é...a nossa mente é uma máquina fantástica, e eu acho que criei você para me dar abrigo junto àquela lareira acesa; eu estava tão só e sentia tanto frio... que aquela ideia me trouxe conforto; foi um acalanto, e eu dormi, permitindo que você saísse da minha imaginação, e foi tão perfeito que não fiquei triste quando você se foi, porque, embora tenha sido uma partida brutal, você era um estranho; nesse dia comecei a conhecer o seu segundo coração. Mas eu teria gostado tanto que você fosse de verdade... Aliás, achei que era tão verdadeiro que nunca pensei que voltasse a viver só na minha imaginação. Mas não existe perfeição e uma linda bolha de sabão, de temporário azul, tende a desaparecer; e com tanta rapidez se pos fora do meu alcance...pudera! Mas estou feliz por ter criado algo tão perfeito; uma espécie de real imaginado. Isso pode até provar que os poetas não mentem, como disse Pessoa, mesmo que eu não seja poeta...

domingo, setembro 04, 2011

Paralelas...(guacira maciel)

Dois caminhos duas setas
oponentes separadas paralelas
sem porto sem parada sem destino
sobrepostas ora curvas ora retas
dois caminhos duas setas
disparadas de arcos tensos
idas vindas dois caminhos em aclive
vôo livre não sem metas
duas setas dois caminhos...
mesmo em curvas ou em retas
seguem juntas paralelas
sem parada sem destino
dois caminhos duas setas...

sexta-feira, setembro 02, 2011

Espera...(guacira maciel)


É... talvez Rubem Braga tenha razão… a mulher que espera um homem, às vezes recebe, de fato, a visita do diabo, porque a quantidade de planos de vingança que lhe passa pela cabeça naquele momento, só pode ser, mesmo, arte do cão; ah! quando aquele miserável chegar não entra no meu quarto; vai dormir no chão duro, sem lençol e travesseiro. Melhor, vou fingir que não estou p… da vida e olhar feito idiota pra cara dele, dando milhões de desculpas mentirosas. Sabe de uma coisa? nem quero olhar aquela cara senão lhe furo os olhos…ou então vou fingir que dormi e nem percebi sua ausência, e me vingar na primeira oportunidade!…

Toda mulher que espera um homem, começa a odiar a cama, o quarto, aquela roupa do bandido que está ali à sua frente, pendurada, e com aquele cheiro que lhe lembra por minuto que ele não chegou, que está atrasado e talvez nem chegue…Mas a mulher que espera um homem que não vem, devia ter um santo especial pra quem rezar e pedir: por favor, pega ele pela mão onde estiver, fazendo o que for e traz pra mim!…
Toda mulher que espera um homem, se iguala no ódio, no tédio, na impotência, no desejo de vingança e no medo; seja ela executiva, lavadeira, professora ou simplesmente uma mulher que espera um homem, que chega atrasado, mas não tarde, a quem ela olha e o coração, quase enfartado há pouco, se aquieta, porque reconhece o cheiro da camisa pendurada, ou talvez porque saiba que ainda não o perdeu…

quinta-feira, setembro 01, 2011

Interregno (02/04/06; guacira maciel)

Errando em pensamentos
do meu íntimo interregno
me acho no meu eu
e no teu cáis
te sinto ora abstrato mar

ora concreto leme a
“conduzir teus barcos a
bom porto”
e cá...
te sonho entre o ócio
dos salões a navegar...
imagem difusa entre a fumaça
e a brisa das manhãs
talvez do Tejo

das barricadas de Luanda
ou uma roda nordestina de Ciranda
por que me aflijo e me consumo?
por que buscando o teu cenário
nas Cruzadas Medievais
sob pesado elmo
já te encontro cá

na alegria dos nossos carnavais?
finalmente

me confundes
não sei quem és
és o silêncio

o dedo em riste
o abraço largo que me acolhe?
a lauda em branco da minha tentativa
o severo e duro olhar que tolhe
a hora que não há?...
és o sorriso doce e complacente no olhar?
a maré mansa e morna
que acolhe meu banho nu
como mil suaves mãos no Atlântico de cá?
o teu não-ser
o teu silêncio qual perfil
de longínqua montanha envolta em brumas
se constituem meu delírio
és um solfejar...ainda não uma canção
és somente a doce idéia
que migrou suavemente ao coração...




Água de chuva (guacira maciel)

Sonhei?
acho que não...

vivi uma ternura nova
inesperada
amoleci virei água de chuva
morna cristalina adocicada
me vi criança acolhida ancorada
me senti pipa cabeça flutuando pés no chão
por instantes mente em caos coração em confusão...
respirei fundo senti o mundo piquei o bonde
pisei fundo...