sábado, dezembro 31, 2011

FELIZ ANO NOVO!

Desejo a cada um dos meus leitores, esteja onde estiver, pois a linguagem do amor é universal, não importando em que idioma ele seja expresso...
"Que o caminho seja brando aos teus pés; que o vento sopre leve em teus ombros; que o sol brilhe cálido em tua face; que as chuvas caiam serenas em teus campos; e, até que eu de novo te veja, que DEUS te carregue na palma das mãos" (Oração Celta).

Carinhosamente,
Guacira

quarta-feira, dezembro 28, 2011

DIREITOS HUMANOS...

Não tenho o hábito de colocar aqui postagens desta ordem por ser este um blog com outra proposta, mas não pude me isentar quando li ISTO que recebi por email...Nos intitulamos "povo pacífico" mas, como já disse antes, os conceitos são perigosos e...tendenciosos... não seríamos um povo passivo? Onde estão as consciências? debaixo do tapete também? Sou educadora e há poucos dias vi, pessoalmente, crianças que vão à escola (quando vão...) caminhando por léguas e léguas a pé, com a lama na altura dos joelhos, sem sequer colocar no estômago um pedaço de pão seco; em lá chegando não têm uma carteira de estudos decente para sentar, material didático para estudar e, às vezes, nem água para beber...

Romário:
"QUE PAÍS É ESSE?"

Parte de entrevista do ROMÁRIO ao jornalista Cosme Rimoli - TV Record .
- Você foi recebido com preconceito em Brasília?
"Olha, vou ser claro para quem ler entender como as coisas são. Há o burro, aquele que não entende o que acontece ao redor. E há o ignorante, que não teve tempo de aprender. Não houve preconceito comigo porque não sou nem uma coisa nem outra. Mesmo tendo a rotina de um grande jogador que fui, nunca deixei de me informar, estudar. Vim de uma família muito humilde. Nasci na favela. Meu pai, que está no céu, e minha mãe ralaram para me dar além de comida, educação. Consciência das coisas... Não só joguei futebol. Frequentei dois anos de faculdade de Educação Física. E dois de moda. Sim, moda. Sempre gostei de roupa, de me vestir bem. Queria entender como as roupas eram feitas. Mas isso é o de menos. O que importa é que esta sede de conhecimento me deu preparo para ser uma pessoa consciente... Preparada para a vida. E insisto em uma tese em Brasília, com os outros deputados. O Brasil só vai deixar de ser um país tão atrasado quando a educação for valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a Educação. E seus professores. Não há interesse de que a população brasileira deixe de ser ignorante. Há quem se beneficie disso. As pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso. A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a Educação de um povo é muito mais".
- Essa ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do Rio?
"não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção. Os gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400 milhões. Foram gastos R$ 3,5 bilhões. Vou dar um testemunho que nunca dei. Comprei alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento. A melhor coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente. Sabe por quê? A Vila do Pan foi construída em cima de um pântano. Está afundando. O Velódromo caríssimo está abandonado. Assim como o Complexo Aquático Maria Lenk... É um escândalo! Uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Alguém ganhou muito dinheiro com o Panamericano do Rio. A ignorância da população é que deixa essa gente safada sossegada. Sabe que ninguém vai cobrar nada das autoridades. A população não sabe da força que tem. Por isso que defendo os professores. Não temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado. E muito menos para perceber a força que temos. Para que gente poderosa vai querer a população consciente? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que este do México. Não deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar".
- Se o Pan foi assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...
"Vou te dar um dado assustador. A presidente Dilma havia afirmado quando assumiu que a Copa custaria R$ 42 bilhões. Já está em R$ 72 bilhões. E ninguém sabe onde os gastos vão parar. Ningúem. Com exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e olhe lá...Pernambuco... Todas as outras sete arenas não terão o uso constante. E não havia nem a necessidade de serem construídas. Eu vi onze das doze... Estive em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo. Tem muita coisa errada. E de propósito para beneficiar poucas pessoas. Por que o Brasil teve de fazer 12 sedes e não oito como sempre acontecia nos outros países? Basta pensar. Quem se beneficia com tantas arenas construídas que servirão apenas para três jogos da Copa? É revoltante. Não há a mínima coerência na organização da Copa no Brasil".
- São Paulo acaba de ser confirmado como a sede da abertura da Copa. Você concorda?
"Como posso concordar? Colocaram lá três tijolinhos em Itaquera e pronto... E a sede da abertura é lá. Quem pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo? Não é por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do País. Quando as pessoas poderosas querem é assim que funcionam as coisas no Brasil. No Maracanã também vão gastar uma fortuna, mais de um bilhão. E ninguém tem certeza dos gastos. Nem terá. Prometem, falam, garantem mas não há transparência. Minha luta é para que as obras não fiquem atrasadas de propósito. E depois aceleradas com gastos que ninguém controla".
- O que você acha de um estádio de mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos. E entregue para um clube particular.
"Você está falando do estádio do Corinthians, não é? Não vou concordar nunca. Os incentivos públicos para um estádio particular são imorais. Seja de que clube for. De que cidade for. Não há meio de uma população consciente aceitar. Não deveria haver conversa de politico que convencesse a todos a aceitar. Por isso repito que falta compreensão à população do que está acontecendo no Brasil para a Copa".
- A Fifa vai fazer o que quer com o Brasil?
"Infelizmente, tudo indica que sim. Vai lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil. É revoltante. Deveria dar apenas 10% para ajudar na Educação. Iria fazer um bem absurdo ao Brasil. Mas cadê coragem de cobrar alguma coisa da Fifa. Ela vai colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00. Só porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada. É uma palhaçada! As classes C, D e E não vão ver a Copa no estádio. O Mundial é para a elite. Não é para o brasileiro comum assistir".
- Ricardo Teixeira tem condições de comandar o processo do Mundial de 2014?
"Não tem de saúde. Eu falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão. Ser presidente da CBF e do Comitê Organizador Local é demais para qualquer um. Ainda mais com a idade que ele tem. Não deu outra. Caiu no hospital. E ainda diz que vai levar esse processo até o final. Eu acho um absurdo.
- Muito além da saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações da Polícia Federal... Ele tem condições morais de comandar a organização Copa no Brasil?
"Não. O Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa. Não até provar que é inocente. Que não tem cabimento nenhuma das denúncias. Até lá, não tem condições morais de estar no comando de todo o processo. Muito menos do futebol brasileiro... "




Entrevista concedida ao repórter Cosme Rímoli, da TV Record.
"A África apresentou há alguns meses atrás o resultado final da Copa do Mundo: deu prejuízo e grande. Agora é a vez do Brasil. Fifa, CBF, políticos e os empreiteiros vão ganhar muito dinheiro. E o povo? Nada como sempre!
Apenas terá a obrigação de contribuir para pagar a conta.
Precisamos virar a cara para esses eventos literalmente sujos e mafiosos.
Quem teve a idéia de promover, o evento em nosso país, alguém sabe?
O Brasil é uma farsa, como sempre irá jogar a sujeira para debaixo do tapete. "

domingo, dezembro 18, 2011

Conceito X Preconceito X Direitos Humanos (guacira maciel)

Há alguns meses, assistindo a um episódio do programa “Low and Order”, da Universal, fui tomada por um forte sentimento de perplexidade e revolta quando um pedófilo, ao ser preso pela dupla de detetives, disse, indignado, estar sendo vítima de preconceito.
Na minha concepção os conceitos precisam ser situados com certos cuidados para não se tornarem restritivos, mas também não serem aplicados como regra geral, sem reflexão, sem análise, sem respeito às especificidades das situações. Descritos como uma produção do âmbito da linguagem, não parece que possam atingir a complexidade dos sentimentos e dos comportamentos.
Me perguntei, então, qual o conceito de pedofilia que teria sido usado na visão dessa pessoa, mesmo que tenha sido um filme, embora ao comentar a questão com alguns amigos, o fato também já fosse do conhecimento e não, apenas, discutido no contexto de um filme, mas da vida real...
Não se trata de preconceito, que não caberia neste caso, indiscutivelmente; entendo ser preciso que esses assuntos sejam discutidos pela sociedade, pela família com mais abertura e ampla divulgação, ainda que apresentados em filmes, embora existam submersos e apaniguados em alguns ambientes bem específicos, como todos sabemos... A própria ciência oferece o tratamento chamado “castração química” para pedófilos, que, em se tratando de predadores, não deverá ser ofertado como opção. Para a Psicologia a pedofilia é uma perversão sexual em que a atração dessa ordem é dirigida para “crianças pré púberes”, e nestes casos, para a OMS, até “adolescentes de 16 e 17 anos podem ser considerados pedófilos, se tiverem uma atração persistente por crianças, pelo menos, 5 anos mais novas”, imagina adultos, que cada vez mais se interessam e violam a dignidade, a inocência de crianças com idades ainda menores... Uma criança não tem maturidade para entender a profunda violência, com desastrosas consequências para a sua vida, que envolve um ato desses; um ato que traz profundas consequências para toda a sua vida; maturidade para que seja classificado como consensual, ato amoroso... como dizem cinicamente os pedófilos.
A pedofilia é, assim, considerada pela ciência uma desordem mental e de personalidade do adulto, e um desvio, pela OMS. O ato sexual entre adultos e crianças é crime, assim como o é, o assédio, a divulgação, a apologia, e outras atitudes não mencionadas que possam ser praticadas por “alguém em quem uma criança confia, gerando a possibilidade de desenvolver conflitos entre a lealdade e a percepção de que essas atitudes são más, e pode ser ainda mais grave por desenvolver um profundo sentimento de solidão e abandono”, além do ato violento e destrutivo em si.Tudo está previsto e descrito na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989), aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas.
Orientação sexual, como se refere o personagem do filme, diferente do ato pedófilo, é caracterizado como atração por pessoas do mesmo sexo, sexo oposto, ou por ambos os sexos e não se associa por atração por crianças, pois estas são diferentes dos adultos tanto física, como emocional, como psicologicamente, para que se pense em classificá-la como orientação sexual.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

A representação para o imaginário...(guacira maciel)

Hoje pela manhã tomava calmamente o meu cafezinho descafeinado e fumegante, enquanto pensava no significado nada ortodoxo que os números têm para mim... sempre tive uma percepção algo esquisita sobre eles, mas essas reflexões me vieram à mente mais uma vez hoje, porque, como sempre faço todas as noites, dei uma olhada aqui no blog e vi o número de votos que, milagrosamente, ainda está sendo registrado (obrigada...), uma vez que a votação para o "Concurso TOPBLOG 2011" foi encerrada e os três finalistas escolhidos. Devo dizer que valorizo muito o fato de votarem em meu blog, porque isso se traduz em retorno e incentivo ao meu empenho para escrever mais, buscando imprimir sempre mais qualidade aos textos.
Bem...voltemos aos números e à impressão estranha que me causam...tenho aguda percepção de que quinhentos e quarenta e três ou sete...setecentos e trinta e cinco, oito, etc... não importa, são maiores que seiscentos; oitocentos, novecentos e por ai vai, porque entendo-os sempre abertos para a infinitude, para outras possibilidades, aliado à certa sonoridade que também é muito importante nesse processo...Posso explicar: os zeros me dão a idéia de fim, de restrição, de impossibilidade...
Sei que isso poderá parecer incompreensível, incongruente, etc; aliás, me perdoem os matemáticos, mas isso é muito forte e vivo em minha imaginação. Não gosto de nada fechado, acabado...até porque, mesmo que o zero não seja um conjunto vazio, e sei que não é...ele me encaminha à percepção de algo concluído e com restrição ao infinito; elemento de um universo que pressupõe limite, e a representação numérica sem ele me dá a sensação de liberdade, de possibilidades, de caminhar...Mas não pensem que não sei ou deixe de valorizar a importância que o zero tem, estando à direita de uma representação qualquer, como no meu salário, por exemplo...ali, eles serão sempre bem vindos e aceito tantos quantos quiserem acrescentar...

sábado, dezembro 10, 2011

O encanto se desfaz (cap. de Cruz do meu Rosário...) guacira maciel

Daquela luta, só conhecia o brilho dos diamantes já lapidados, que lhe garantiam toda sorte de luxos.
O encanto de Carlos se devia ao fato de muitas e muitas vezes ter ficado embevecido a ouvir as estórias contadas pelos tropeiros ao final do dia - após intermináveis semanas de confinamento na serra - sentados nas mesinhas toscas dos botecos tomando cachaça de má qualidade. Eram, na verdade, fantasias elucubradas naquele isolamento, como forma de se protegerem da loucura absoluta, sobre o duro dia a dia vivido nas grotas, sem sequer perceberem que suas vidas se esvaiam junto com o suor que lhes brotava da pele crestada pelo sol implacável durante verões que chegavam à beira dos infernos, acrescidos da temperatura interna dos seus corpos tensos; pelo frio de rachar dos invernos, ou das noites de qualquer estação, já que a região, como acontece nos desertos, tem noites extremamente frias e úmidas. Naquele cenário dantesco eles iam gradualmente esquecendo da própria humanidade, cabendo ao delírio preservar apenas a sobrevivência que mantinha o sonho, como uma tênue chama, e assim, criavam uma supra realidade que gestava a esperança do tal bambúrrio. Mas muitos não sobreviviam, inclusive, por causa da violência que se impunha naquela realidade, ou se mantinham em condição de seguirem, apenas, o elemento de combustão para a mortal lavra; então, à medida que os 'fortes' iam perdendo a saúde , eram substituídos por corpos jovens (apenas corpos...) e saudáveis. Para a imensa maioria, a velhice prematura chegava e ainda encontrava uma delirante esperança de riqueza. Numa dessas turmas de recém chegados encontrava-se Carlos, cujo sobrenome era totalmente desconhecido; era perigoso ter sua identidade de filho do patrão divulgada. Naquele ambiente não havia necessidade dessas considerações; pelo menos ali, podia-se dizer que existia igualdade, nem que fosse de uma forma que os tornava desiguais em relação aos outros seres humanos.
Então, Carlos presenciara uma realidade inimaginável; sempre pensara na lavra do diamante como uma grande aventura, cheia de emoções quixotescas... algumas vezes, encontrando-se perto de garimpeiros ele ouvia conversas à meia voz, nos raros momentos em que se davam o luxo de sonhar com planos de futuro:

-- Seu Zequinha, o qui o sinhô vai fazê primero quando incontrá aquele bichão piscando com uns oio de todas cor qui se pode pensá?

-- Home, diz só a primera qui ocê tem na cabeça; eu, por mim, já sei o que vô fazê...

-- Intão conta aí!

-- Eu dô um berro como a fera qui sô; um urro das onça qui nois ovia vim de dentro da mata quando ia caçá... -- Onça? aquilo era jaguatirica, qui aqui num tem onça das verdadera mermo!

-- É, eu sei...

-- Mas ocê só vai berrá qui nem a jaguatirica? é poco!

-- Não... depois eu disimbesto nesse mundão de meu Deus, qui nunca mais ocês bota os oio n'eu.

-- É... eu sei...e depois de ocê encher o rabo de toda cachaça e cumê todas as puta do arraiá, vorta morto de fome pra cumeçá tudinho otra vez. Eu sô mais veio qui ocê e já vi minino fazê o mermo e depois vortá chorano.

-- O quê? cumigo não!...tô dizendo? eu num vorto nesse inferno é nunca mais; é bastante uma pedrinha das boa!

-- Tá bom... vamo pará com essa cunversa qui o jagunço do coroné tá oiando pensando que nois tá cum arguma tramóia...

-- O que ocê disse?

-- Ocê nunca viu falar das coisa qui os pesoá faz pra iscondê uma pedrinha mixuruca, não?

-- Conta o sinhô, intão...

-- Eu sô macaco veio e já vi coisa qui o Todo Puderoso duvida...


Nesse momento, faz desajeitadamente o sinal da Cruz e tira respeitosamente da cabeça frangalhos do que fora um chapéu.


-- Apois eu tô dizendo... por essa luz que me alumia, qui muitas vez chamaro o dotô Filício já cheio das cachaça pra tirá do rabo de muito macho aqui, um carbonato de nadinha, que iscondero lá pra robá o dono do garimpo...

-- Vixe Maria!...e o dotô faz isso bebo ?

-- Ôxe! diz o povo, qui quanto mais incharcado, mió ele trabaia; já vi muito macho chorando com as tripa de fora, de tanto tomá olio de rícino pra botá na bosta a pedrinha que robô...

-- Moço!... é mermo verdade, é?
-- Se é? Ôxe! E eu sô cabra de mintira? Isso é nadinha, moço. Tu ainda ta nos cuêro, mas vai vê muita coisa ruim se vivê pra vê...
-- Vixe Maria!! E eu tenho iscoia de outra vida? Vô tê qui ficá é aqui mermo.
---Intão se cuida, macho! Num tenta nem im pensamento robá os home...
---É...
Retrucou, pensativo, o jovem interlocutor. Na verdade, já vinha planejando alguma coisa nessa perspectiva, para abreviar aquela experiência tão sofrida, mas teria que adiar seus planos até se sentir mais seguro...


No domingo do primeiro final de semana, único dia em que podiam dar uma parada para descanso daquela exaustiva labuta, tendo febrilmente preso a uma das mãos um ramo de uma das espécies nativas de desconhecida e belíssima orquídea, Carlos desceu a serra...





quarta-feira, dezembro 07, 2011

A escola que sonhamos...(guacira maciel)

Partindo da escola que temos hoje na realidade brasileira, notadamente na Região Nordeste, em que as ausências e carências são as mais elementares, nos propusemos a expor, tomando como referência a realidade virtual – Second Life – a representação da escola que vive no imaginário, principalmente do professor de escola pública, mas que, diante de todos os avanços da ciência e da tecnologia, tem amplas possibilidades de vir a existir. Aliás, sabe-se que essa visão que há pouco tempo era de futuro, já chegou ao requinte de construir comunidades reais, tendo como modelo a realidade da Second Life que é tão fortemente presente em nossas vidas na contemporaneidade.
Para tornar esse sonho factível, um dos pontos fundamentais é estimular o interesse dos educadores em realizá-lo. Para tanto, sabendo-se que há os que não desistem e que, mesmo na maior escassez fazem um bom trabalho, seria fundamental começar por estimular a infância e a juventude a sonhar também e a não desistir. Podendo-se pensar, inclusive, que o que os move a cada dia em que se levantam para um recomeço é imaginar que estão seguindo para mais um dia de trabalho na escola dos seus sonhos. Mas isso só não basta; é preciso diariamente construir condições, ainda que pequenas, através da busca do melhor que podemos oferecer pedagogicamente, de forma a ir minando as resistências dos jovens, dos colegas, dos gestores, da sociedade, até chegar ao ponto, partindo desse micro mundo, de influenciar as políticas amplas voltadas para a educação que sabemos ser possível.
Já conhecemos a fundamental importância da mudança de consciência – toda mudança se inicia na mente – para mudar o que não queremos em nossas vidas. Em sua obra Realtragismo, o jovem escritor, Hiago Rodrigues Reis de Queirós, afirma que a “origem de toda tragédia é o descaso da sociedade frente a uma realidade que apela para ser mudada”. E por acaso, a escola já não se encontra em estertores? O que ainda precisamos esperar que aconteça, o que há de mais trágico que um “professor que finge que ensina e um estudante que finge que aprende?” A nós, professores, cabe grande responsabilidade, porque ainda temos sob nossa influência mentes limpas, puras, algumas das quais, especialmente na escola pública, ainda nos têm como única referência (positiva ou negativa...) e única possibilidade de encaminhá-los a uma realidade menos dura, menos restritiva e avassaladora.
Amplamente, a escola que sonhamos começa por respeitar a vida, as identidades dos sujeitos que transitam seus espaços, sabendo-os diferentes como seres com culturas, origens, grupos sociais, histórias, conhecimentos, bandeiras e sonhos, intrínsecos a essas identidades e ao fenômeno em que se constitui a juventude. A escola que sonhamos reconhecerá o direito de todo ser humano a ter igualdade de oportunidades, significando que “ ninguém pode ser impedido pelo poder político ou jurídico de desenvolver suas faculdades, tendências e personalidade, constituindo-se, assim, uma afirmação das diferenças nas atividades dos indivíduos e em reconhecimento explícito das diferenças econômicas e sociais que emergem da identidade dos homens aos olhos da lei”. Assim, pelo respeito ao direito a ter direitos, e ao pleno desenvolvimento humano começaria esse sonho a tornar-se realidade.