Este trabalho seria apenas um sussurro, não fosse a
ousadia de escapulir à meia-voz... considero-o uma transgressão. Embora tenha sofrido algumas correções de curso, como faz o timoneiro, pela
necessidade que me acompanha de jamais estar satisfeita e entender que a cada
dia as experiências vividas se revestem de nuances novas em sua compreensão, embora o pensamento original tenha permanecido. Aqui, decidi iniciar a partir
do pensamento de Cecília Meireles:
“Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos para verem mais”.
No subtítulo me
refiro à ressonância, que, entre outros, significa “fenômeno físico pelo qual o
ar de uma cavidade é suscetível de vibrar com frequência determinada, por
influência de um corpo sonoro, produzindo reforço de vibrações”. (BUENO, 2007).
Por esta razão, digo que são textos ressonantes; a transgressão
extrapola a irreverência e se reveste de um caráter de transposição de si
mesma, de ultrapassagem dos próprios limites quanto à sua natureza própria,
indo além e induzindo a outros universos, outras possibilidades de representação no âmbito dos signos, dos
ícones, representantes de realidades múltiplas. O “reforço de vibrações” é representado
por essa multiplicidade, com uma “frequência determinada”, dentro de arcabouços
específicos que se configura cada universo em que transitamos, sem, entretanto,
anularem-se os diálogos com as percepções que expõem outras tonalidades, que
levam por outros caminhos e respectivas comprovações. O meu trabalho neste ou
em qualquer outro “entre lugar” é o resultado do enfrentamento cotidiano de problemas
humanos e, consequentemente, sociais. Precisamos nos colocar na condição de
viajantes e observar que a paisagem muda à medida que caminhamos, apresentando
novas exigências, sendo preciso estar atentos, porque essa passagem nos acrescenta
aprendizagens novas e outras formas de olhar, necessitando que mudemos a
direção e a observemos sob outros ângulos. Isso ensina ao viajante, porque os
outros caminhos também têm sua lógica, sua filosofia e suas ‘razões’, sendo imprescindível
dialogar com a subjetividade e suas possibilidades; com os caminhos que só o
são depois da passagem do viajante; aqueles que margeiam as ‘autopistas’, e
acontecem de forma natural, enriquecidos a cada viagem... Somos os sujeitos da
história antes de tudo e essa se constitui uma condição primeira, uma condição
antecedente, uma vez que temos experiências humanas comprováveis.
Sinto muita insatisfação, muita inquietude quando percebo
o encaminhamento das questões humanas com um determinismo que encerra a
condição de extrapolar os cânones, as bitolas e o cientificismo, muitas vezes
bastante estreitos, porque a vida é um arcabouço a ser preenchido, apenas,
quando percorridos os possíveis caminhos, se os sujeitos em suas vivências têm
formas diferentes de caminhar, inclusive, porque uma minoria não pode encerrar
a verdade e ditar regras para todos - cujas experiências são diferenciadas -,
aprisionando a vida entre grades, se a cada segundo mais e mais formas se nos apresentam
como possibilidade e se vão incorporando às identidades humanas, cuja porta
deverá permanecer sempre entreaberta.
O filósofo francês
Gilles Deleuze disse ser a “Filosofia a Arte de criar conceitos”,
e que estariam ai, implícitos dois dos mais importantes deles a se considerar
entre as duas: o primeiro, que a criação não está restrita ao mundo dos
artistas ou “profissionais de propaganda e marketing” e o outro,
a compreensão de que os conceitos não têm a palavra final sobre qualquer coisa;
eles não têm o poder de transcender, absolutamente, as vivências humanas; e
seriam formas buscadas pelo pensamento - as representações, invocando a
Semiótica -, para situar as nossas experiências em determinado âmbito, assim
como as relações que se estabelecem. Além destas, outras intimidades entre as
duas são detectáveis: olhares diferenciados sobre a vida e certo distanciamento
das suas demandas e questões para que seja possível compreendê-las, o que nos
traz uma amplitude muito mais interessante, e assim, a percepção de outras
realidades possíveis. No entanto, esse distanciamento não poderá significar
alheamento, nem superficialidade, mas a possibilidade de mais um caminho, outra
consciência de si mesmo, do mundo edas relações.
Compreende-se, dessa forma, como a perspectiva é fundamental
em ambas para ampliar outras vertentes em seu aprofundamento; para entender
isso será necessário exercitar esse distanciamento provisório, que trará uma
compreensão mais dilatada. Elas ainda concordam quanto à desconfiança de uma verdade imutável e
única, estabelecendo alicerces para outros universos...
Como dar respostas certas e definitivas a questões relativas
e circunstanciais, uma vez que há tantos envolvimentos?