Raízes da
Cultura Brasileira para crianças;
contando a verdadeira história. (Trilogia).
Livro II - Navegadores portugueses; esses seres
estranhos
Livro III - Africanos; escravizados
na nova terra
Apresentação
Ao nascer o meu primeiro neto,
não me saiu da cabeça que ele não poderia crescer sem saber a verdadeira História
do seu povo, e comecei a pensar numa forma de fazer isso, para que ele já cresça sabendo a verdade,
mesmo que na escola, por algum tempo, ela ainda vá ser contada de forma fantasiosa...
Mas como fazer isso? Pensei...
Não queria que ele a entendesse
como história do meu imaginário de avó, que
conta histórias inventadas na hora de fazê-lo dormir; por esta razão,
resolvi publicá-la para que outras pessoas: avós, mães, e, finalmente, os
professores, as escolas e a sociedade pensem no assunto, analisem essa
possibilidade e tomem atitudes que possam ampliar a ideia a instâncias mais
amplas... Sei não ser uma decisão fácil, como não tenho a ilusão de que será
uma longa caminhada de reconstrução, uma vez que a atual versão foi elaborada
do ponto de vista do “vencedor”, e se arrasta por séculos...
A partir dessas conclusões,
comecei a aprofundar meus questionamentos: quanta verdade estaria contida nos
conhecimentos que constituem a História que nos contam? Em minhas reflexões cheguei
a concordar com alguns historiadores sobre se o nosso país é híbrido ou
profundamente ambíguo... O que, realmente, constitui a nossa identidade como
povo, se o que consideramos nossos símbolos, não são apresentados em sua versão
verdadeira, ainda que não genuinamente nossos?
A disseminação, insistente, de
uma história distorcida por interpretações errôneas e tendenciosas, contada do
ponto de vista do ‘vencedor’, como sempre ocorre, trouxe como legado a
construção de uma memória com raízes flutuantes, fato reconhecido por todos, embora
falte coragem para promover a mudança. Quem somos nós, povo brasileiro? Qual a
nossa verdadeira História? O que na nossa cultura, é mito, lenda, distorção ou
fruto de interpretação, muitas vezes preconceituosa, já que, invariavelmente, a
versão se sobrepõe ao fato histórico, com a finalidade de atender interesses dúbios?
Bem, decidi contar a Arthur o
que ainda está coberto por um véu de imaginário, mas que, se for encarado com
sensibilidade e honestidade, será desvendado...
Os textos são leves, curtos e
pouco densos e a linguagem bastante adequada e compreensível, para que esses
conhecimentos se acomodem de forma natural e firme nas cabecinhas infantis, mas
a intenção é mais profunda... É ajudar a desconstruir distorções que considero
graves, porque se tornaram alicerce para uma grande fábula...
Justificativa
O
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu Artigo 58, refere: “no
processo de educação respeitar-se-ão os valores culturais artísticos e
históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente,
garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às [verdadeiras] fontes
de cultura”.
Tomando essas orientações como
premissa, entendo ser uma atitude de respeito e reconhecimento dos direitos dos
cidadãos, alvo desse importante documento, garantir que passem a conhecer
gradativamente os verdadeiros fatos históricos e as culturas formativas da “Cultura Brasileira”, em uma
versão, inicialmente, mais amena, para que alicerces firmes vão sendo constituídos.
No papel de educadora,
me pergunto: por que continuamos a divulgar entre nossas crianças e jovens uma História
falsa, tendenciosa, mitológica e recheada de monstros sagrados inventados? A História
que é contada nos livros didáticos é da carochinha, porque se fundamenta em personagens
fictícios, embora referendada e perpetuada, por atender a interesses de
pessoas, de grupos, de Instituições e até de países. Urge dessacralizar essa
construção contando a verdadeira História, ainda que híbrida. Não podemos
continuar a falar com eles sobre responsabilidade, honestidade, sobre formar
cidadãos críticos, se reafirmamos cotidianamente essa falta de clareza nas
escolas. Precisamos reconstruir nossa identidade, baseada na verdade, e fincar
nossas raízes em solo firme, para que elas possam se aprofundar, se fortalecer
e ramificar, levando esse povo a ter orgulho do que realmente é. Partindo dessa
compreensão e entendendo a necessidade de reunir coragem para isso, falarei
sobre alguns mitos criados por interesses historicamente aceitos; nesse caso,
não procede o fato de que, por ser aceita por um povo através dos séculos, uma
história inverídica termine por se tornar uma verdade.
Com a compreensão de educadora que trabalha
com cultura e com a nossa identidade como povo, entendo, em primeiro lugar, ser
fundamental a criação de um novo calendário, baseado na nossa verdadeira História,
em fatos verdadeiros. Mas para que isso seja possível precisamos contá-la.
Até quando as escolas ensinarão às nossas crianças fatos históricos diferentes daqueles que realmente ocorreram? Esses são brasileiros que continuarão sendo enganados até que cheguem a uma idade em que começarão a se fazer perguntas e a fazerem as próprias descobertas. É como negar a um filho a sua verdadeira paternidade e anos mais tarde ele venha a descobrir que tudo o que construiu e pensava fazer parte da sua identidade era uma mentira. Entender, desmistificar e conviver com essa fantasia, fatalmente, irá gerar muitas dúvidas, muitas dificuldades, medos e, até, vergonha do seu pertencimento étnico. Há poucos dias, em uma das minhas incursões pelos distritos de Senhor do Bonfim – Bahia – numa escola de Missão do Sahaí - comunidade remanescente de índios – conheci, apresentado por uma professora, um adolescente que tem vergonha, e nega, ser índio, porque segundo ele, os outros jovens fazem gozação, chamam, a ele e a outros jovens da mesma origem, de selvagem, burro, etc.
Até quando as escolas ensinarão às nossas crianças fatos históricos diferentes daqueles que realmente ocorreram? Esses são brasileiros que continuarão sendo enganados até que cheguem a uma idade em que começarão a se fazer perguntas e a fazerem as próprias descobertas. É como negar a um filho a sua verdadeira paternidade e anos mais tarde ele venha a descobrir que tudo o que construiu e pensava fazer parte da sua identidade era uma mentira. Entender, desmistificar e conviver com essa fantasia, fatalmente, irá gerar muitas dúvidas, muitas dificuldades, medos e, até, vergonha do seu pertencimento étnico. Há poucos dias, em uma das minhas incursões pelos distritos de Senhor do Bonfim – Bahia – numa escola de Missão do Sahaí - comunidade remanescente de índios – conheci, apresentado por uma professora, um adolescente que tem vergonha, e nega, ser índio, porque segundo ele, os outros jovens fazem gozação, chamam, a ele e a outros jovens da mesma origem, de selvagem, burro, etc.
Também é
injusto que tantas pessoas dediquem suas vidas a estudos, com objetivo de buscar,
descobrir e evidenciar essa identidade, essa gênese histórica - muitas vezes desafiando
o poder dominante, ora na ficção, através de personagens, ora em incansáveis estudos
e pesquisas sobre fatos não revelados, mostrando os “heróis de nossa gente”, em
que buscam desconstruir fatos, e personagens reconhecidamente verídicos, dando
a conhecer os pequenos heróis que subjazem no limbo da historiografia
brasileira, desenvolvendo uma espécie de “anti história” o que, de certa forma,
vem desterritorializando as estruturas político sociais, que têm interesse em
continuar contando a história do ponto de vista do ‘vencedor’ - e a essas
pessoas seja negado o direito de conhecer os resultados de tão árduo e
incansável trabalho. O que ficará suavemente evidente aqui, através de uma
linguagem delicada e apropriada acerca dos donos da terra, da “colonização” e
da escravização de pessoas, é a minha intenção de começar a mostrar a versão que
não é contada nos livros didáticos, nem na Literatura, ou seja, a compreensão de que a História é
contada de forma tendenciosa, resultando em uma História
imaginada e estabelecida por aqueles que se consideram “elites étnicas e sociais”,
reforçando o que há muito se vem denunciando. Sabemos que as fronteiras dessa História
estão povoadas de versões das minorias invisíveis, das assombrações, dos
fantasmas que amedrontam, não significando, porém, que não existam, mas que, forçosamente,
têm construída a sua morada num “entre lugar”, como os, verdadeiramente, sem teto, sem terra, sem
camisa (padrão) do time, lugar onde precisa se alojar a “intervenção crítica”.
Nesse caso, a
“heterogeneidade não se homogeneíza” na unidade da história que já foi contada;
ao contrário, é uma voz que se levanta e resiste como uma realidade
contraditória, embora subjacente, indelével; similares a operadores booleanos,
esses fantasmas definem seus caminhos e estratégias de busca, com um software
específico. A História desse país se oferece como um rico hipertexto, em que
nós, os sujeitos do conhecimento, precisamos nos recusar a seguir em frente
ignorando aquilo que não foi contado ou o foi de forma distorcida, para
descortinar um rico percurso que subjaz nas entrelinhas, nas fronteiras, no
limbo...
É preciso
rever essa História e desalojar esse estado de epifania que ela assegura aos
que a vêm contando até hoje. Ela é uma ficção gestada nos descaminhos da História
real, porque comprovações documentais vêm sendo encontradas e contam a outra
versão; elas são avaliadas por estudiosos e não podem ser desconsideradas.
Fundamentada no pensamento de Boudelaire, também uma verdade absoluta e eterna
inexiste, ou melhor, é ficção que se torna pobre diante do fato de não se
considerar outras possibilidades, outras dimensões, até porque, a escrita da História
oficial está fundamentada em mecanismos ideológicos. É importante, fundamental
mesmo, que esse foco sacralizado seja deslocado, desterritorializado,
estabelecendo-se, no mínimo, um processo dialógico com as outras percepções, em
busca da História verdadeira.
Em “Meu querido
canibal”, de Antonio Torres, há o impressionante episódio que, presume-se ter
durado de 1554 a
1567, a
“Confederação dos Tamoios”, que para o historiador Edmundo Moniz, foi um dos
mais importantes capítulos da nossa História e considerada como a primeira
reação [organizada] dos nativos, donos da terra, que desestabilizou a confiança
dos “colonizadores”, que, entretanto, “não estavam iludidos quanto ao potencial
de investida dos Índios sobre o território de São Paulo e Santos, uma vez eram
donos de grandes extensões, como parte dos territórios do Rio de Janeiro e São
Vicente”. Porém, uma traição ao tratado de paz entre os Tamoios e os Jesuítas
levou os “colonizadores” à vitória. A falsa trégua foi, na verdade, um ardil
utilizado para ganhar tempo, enquanto esses estrangeiros recebiam reforços e
atacavam os desavisados e confiantes nativos. E assim, entre milhares de outros
exemplos, foram forjados os heróis da História do Brasil.
Objetivos Específicos
- Contar às crianças uma bonita e verdadeira história: a História do Brasil.
- Usar o recurso das lendas para ajudá-las a estabelecer diferenças e limites entre verdade e fantasia.
- Levar ao seu conhecimento como ocorreu, de fato, a formação do povo e da cultura do Brasil.
- Falar especialmente sobre os primeiros habitantes e donos das terras.
- Desconstruir o mito da “colonização”, evidenciando os aspectos da dominação.
- Refletir sobre a diferença entre índios “preguiçosos e indolentes” e diferenças culturais.
- Refletir sobre a diferença entre “negros escravos” e “negros escravizados”
- Evidenciar a importância da cultura européia na formação da cultura brasileira e
as relações que se criaram entre as
três culturas formadoras da mesma
- Mostrar a beleza, inclusive nas artes, das nossas raízes culturais.
- Abrir espaços ao professor e estimular o trabalho interdisciplinar.
- Estimular o imaginário das crianças
- Ajudar na formação de leitores.
A leitura no processo de ampliação cognitiva
Para a Neurociência, “Cognição refere-se a um conjunto de habilidades cerebrais/mentais necessárias para a obtenção de conhecimento sobre o mundo. Tais habilidades envolvem pensamento, raciocínio, abstração, linguagem, memória, atenção, criatividade, capacidade de resolução de problemas, entre outras funções.”
A Literatura infanto juvenil tem ação importante como coadjuvante no processo de
reconhecimento, aceitação e fortalecimento das identidades, que deve ser iniciado nessa importante fase da vida, porque o faz de forma lúdica, já que a fragilidade infantil é fortemente agredida pelos preconceitos, e a Literatura trabalha suave e sutilmente essas dores guardadas, encaminhando para a construção da auto estima positiva e, quem sabe, da cura. Os preconceitos precisam sair do limbo onde são gestados e sobrevivem, incomodando, de forma silenciosa e subjacente, para que sejam reconhecidos e tratados com os devidos cuidados.
A Literatura, como arte, faz esse papel de conciliação entre os dois universos, porque evidencia as questões mais íntimas, guardadas como forma de proteção. Nessa perspectiva, ela também enriquece, amplia e aprofunda o processo cognitivo infantojuvenil, porque estimula a criatividade que é um processo tão subjetivo quanto a própria cognição