quarta-feira, junho 01, 2011

Direitos Humanos...(Cont.)

De início, evidentemente, nos reportaremos ao período histórico do Brasil Colonial, situado entre 1500-1822, que se refere à invasão do território nacional pelos portugueses (já mencionado aqui em outros textos...), cuja dominação inicial se fez através do extermínio de populações inteiras de indígenas, donos do território brasileiro (ver também “Meu querido canibal” – Antonio Torres), que tinham uma identidade, uma cultura com seus valores, seu sagrado, etc...e não precisavam de nada mais para continuarem felizes. Além disso, o povo indígena foi submetido à mais desumana escravização, além das mortes por exposição a moléstias que o seu organismo desconhecia e, portanto, não tinha defesas para combater, por causa da intensidade dessa exposição.

Aqui vou me deter mais um pouco.

Nesse mesmo período foi iniciado o tráfico de seres humanos, com foco nos povos africanos, que aos olhos do invasor era mais dócil (que eu diria civilizado) e, portanto, mais submisso. Por isso, foram o alvo de sua preferência para o trabalho árduo da lavoura de cana-de-açúcar no Nordeste, e da lavra do ouro em Minas Gerais (naquele período). A partir daí essa prática se intensificou por ser altamente lucrativa para os traficantes, para países africanos que também vendiam seu povo (até porque, o europeu não ousaria "caçar" negros sozinhos naquelas terras desconhecidas, como conta, erroneamente, a história) e para os donos das terras. Os negros eram comercializados entre os senhores em mercados daqui, onde eram tratados como animais.

É do conhecimento de todos que o Brasil foi o último pais do Ocidente a abolir definitivamente a escravidão, uma prática que tinha profundas raízes na sociedade; ao homem negro, escravizado, era negada a condição de ser humano. Não havendo nenhuma disposição para mudar isso, uma vez que a escravidão se constituía uma das mais fortes heranças coloniais, pois os grandes proprietários rurais se eximiam do cumprimento das leis, assim como um “Estado já comprometido com o poder privado”, e nem a Guerra do Paraguai conseguiu lhe por um fim, mesmo que essa prática trouxesse muitas críticas de parte do inimigo e até dos aliados.

Só começou a ocorrer uma mudança porque a Inglaterra exigiu a assinatura de um documento de compromisso que abolia o tráfico de escravos como parte do preço para que a nossa independência fosse reconhecida e ainda votada uma lei que considerava essa prática como pirataria. Porém, sempre tivemos dificuldade em cumprir leis e a atitude tomada não trouxe grande repercussão, e foi usado um ardil que consistiu em importar grande quantidade de escravizados antes de a lei ser votada, o que trouxe como consequência, a ilusão de que o tráfico havia diminuído depois. Entretanto, passado algum tempo tudo voltou a ser como antes, quando se fez necessário o aumento da mão de obra gratuita. Daí se origina a nossa velha conhecida expressão: “para inglês ver". Em 1840, no entanto, a Inglaterra voltou a pressionar o Brasil, por causa da renovação do tratado (de 1827). Desta vez, usando a força, autorizou que sua marinha aprisionasse navios suspeitos de realizar tráfico. Mais tarde, em 1850, autorizou a invasão de portos brasileiros para afundar esses navios. Mas parou por ai, só se voltando a discutir o assunto por ocasião da Guerra do Paraguai.
Os africanos menos dóceis e mais organizados, alguns eram oriundos de culturas extremamente organizadas política e socialmente, começaram a se revoltar e se organizar em comunidades chamadas "Quilombos" (o maior e mais organizado era o de Palmares, no Estado de Alagoas).

Retornamos à questão da lutas para que os direitos humanos fossem instalados por aqui....

Entre as mais importantes revoltas de africanos escravizados, ocorrida no início do século 19 /1835, está a Revolta dos Malês, que viviam na cidade de Salvador - Bahia; eles eram muçulmanos e sabiam ler e escrever. Essa revolta chegou a preocupar as elites, mas foi abortada em consequência da traição de uma escrava.

Revolta de Canudos, um verdadeiro massacre, ocorreu em 1896/7, no sertão do Estado da Bahia. Esse massacre foi promovido pelo governo contra milhares de sertanejos liderados por Antonio Conselheiro, um líder religioso em busca de uma vida mais digna para a população de Canudos. Vale dizer que, apesar da mais absoluta desigualdade de armamentos, os soldados tiveram muitas dificuldades em dispersar mais de 25 mil pessoas revoltadas e orientadas por um fanático religioso que, no entanto, era um homem muito consciente das questões que tanto sofrimentos traziam ao seu povo. Embora tenha sido um massacre, pois foram mortos milhares de sertanejos, na ocasião também morreram mais de cinco mil militares. Há referências de que muitas crianças órfãs foram trazidas da região pelos soldados republicanos, como "lembranças vivas" do massacre, estando entre eles Ludgero Prestes, trazido por Euclides da Cunha, autor do conhecido livro sobre o fato: " Os sertões", e entregue ao educador Gabriel Prestes, em São Paulo, que o adotou e educou. Ele se tornou o primeiro diretor de uma escola pública na região e teria morrido de câncer aos 43 anos, deixando filhos. Não se sabe, ainda, o paradeiro de outras crianças, que, provavelmente foram estigmatizadas, porque eram vistas como "filhos de jagunços que assassinaram soldados".
A minha compreensão é a de que não houve verdade e justiça em relação a esse episódio, mesmo após algumas questões virem à tona pelas mãos de pesquisadores e cineastas que estudam a questão, até mesmo através de entrevistas com sobreviventes, que aprsentam outra versão, diferente da 'oficial', inclusive, sobre a vida que tinham, "sem precisar da República". Foram homens e mulheres que deram depoimentos sobre a sua vida antes e depois da guerra. (segue...).


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