“Na verdade, mesmo
se comportando como um sultão, era como se sentia, ele, como nenhum homem,
tem poder de vida e de morte real, mas o tem de forma subjetiva, pois após esse
frustrado casamento em que se considerou traído – o que merece uma análise mais
criteriosa – criou um delírio ao exigir da vida uma relação homem/mulher
absolutamente perfeita. O seu não desejo de viver plenamente uma relação, constitui-se sua forma de morrer e de matar. E, embora não tenha conseguido
morrer fisicamente, simbolicamente mata a mãe, aquele útero que ainda o
aprisiona, e a ex-mulher, pois ambas o traíram nas mulheres com quem se
relacionara apenas no tempo presente; um presente crônico em que sempre experimenta um amor
fugaz, sem futuro (dimensão onde poderia ser outra vez traído), ou seja,
estando sempre no presente, reconhecendo apenas essa dimensão de temporalidade
restrita, acredita vencer o futuro, anulando a possibilidade de sofrer outra
vez a mesma dor.
Entretanto,
eu, como aquela outra, venci o meu sultão e venci o tempo. Eu o encantei, e
enquanto estivemos juntos um forte sentimento nos uniu no presente que vivemos e, mesmo temendo um futuro comigo, esse presente esteve, sim, no futuro, ou
aquele irrealizável futuro foi vivido no tempo presente...
Sei
que não mais buscou apenas isso em mais ninguém ou seja, eu criei um
tempo novo; eu venci aquele futuro onde costumavam morrer suas relações. Há
poucos dias, me telefonou e disse: "você é diferente; continuo apaixonado por sua
sensibilidade; será sempre a mulher da minha vida, aquela que ainda me faz
vibrar e traz ao meu coração a saudade de amanhecer abraçado a alguém”.