quinta-feira, fevereiro 23, 2012

A Chapada Diamantina (guacira maciel)

A Chapada Diamantina localizada na Serra do Sincorá, estado da Bahia, é uma belíssima e mágica região de montanha geologicamente muito antiga e de luxuriante natureza, com fantásticas formações rochosas, magníficas cachoeiras, lagoas subterrâneas e cavernas com infindáveis labirintos de túneis e salões enormes e inexplorados, que despertam a curiosidade dos cientistas e turistas em todo o mundo; por todos esses atributos abriga muitas sociedades alternativas, templos, etc. Jamais poderei esquecer um banho de rio que tomei, a uma temperatura surpreendentemente não muito baixa, embora estivéssemos no inverno, em uma banheira de pedra cor de rosa, meu Deus! Também possui “canyons” de estonteantes altitudes que atraem multidões de aficcionados dos esportes radicais. Seu clima, tendendo para frio, alcança temperaturas que no inverno variam entre 7° e 10° centígrados. Possui uma cultura extremamente peculiar, bem diferente das outras regiões do estado, e uma história bastante rica, além de uma culinária especial.
No início do século XX, por ocasião da corrida do ouro e depois do diamante, aquela serra foi quase toda esburacada, em consequência da ganância e da exploração desordenada, tendo sua produção de diamante - que é o cenário do meu livro "Cruz do meu Rosário", em fase de conclusão, - toda exportada para a Europa e o mundo. Essa riqueza trouxe o apogeu econômico e social, e os proprietários dos garimpos e suas famílias viviam no fausto. As mulheres das famílias mais abastadas, como a minha própria avó, usavam peles e se cobriam de joias; tudo era importado diretamente; da seda do penhoar (até escrevi um conto, "Penhoar de seda", sobre o assunto) ao chapeu do Panamá dos seus maridos, passando pela casimira inglesa e o champanhe francês...
Para se ter uma idéia, Igatu (considerada uma cidade “sagrada” toda construída em pedra pelos escravos) era uma das cidades mais ricas, em alguns lugares, os habitantes chegavam ao cúmulo de derramar pó de ouro sobre as pessoas durante a procissão do Imperador do Divino, um dos pontos altos dos festejos da região, que mistura cultura religiosa e cultura popular.
Aquela riqueza toda, aliada à ganância terminou por instalar a barbárie; como consequência, naquela região o convívio com facínoras era encarado com naturalidade, pois precisavam estar presentes nos momentos importantes – fosse batizado, casamento ou enterro de alguém, talvez até, para terem certeza de que o defunto estava morto mesmo e seria assunto enterrado - assim como festa de qualquer natureza, para fazer a segurança dos chefes, cuja vida pouco valeria se alguém resolvesse tirá-la por simples birra, ou um olhar mal interpretado. Nos bailes eles podiam, “descaradamente”, dizia Marta (Cruz do meu Rosário), pedir licença para dançar com as senhoras presentes, ignorando a opinião dos maridos e ninguém dizia nada, pois assim como guardavam suas vidas podiam também tirá-las caso assim entendessem.
Em consequência da ausência da lei para punir os crimes cometidos e a necessidade de verdadeiros exércitos para segurança dos donos de garimpos, ocorreu um verdadeiro êxodo de criminosos para aquela região, principalmente bandidos foragidos da justiça dos quatro cantos, que eram imediatamente contratados pelos ricos proprietários para fazer a segurança da família e dos garimpos – os famosos jagunços -; quanto mais crueis, mais valor lhes era conferido e mais ousadia tinham, uma vez que aquela se tornara uma terra sem lei, onde se matava por qualquer motivo banal, mas, principalmente por roubo de diamante. Ali uma pessoa podia acordar pobre e dormir milionária, ou também ser encontrada morta no dia seguinte sem que o fato causasse espanto, nem trouxesse a menor consequência.

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