domingo, novembro 13, 2011

Políticas de Educação para a inclusão e o desenvolvimento (guacira maciel)


A história da humanidade é cada vez mais a disputa de uma
corrida entre a educação e a catástrofe.
Wells, H. G.

O Brasil é um país imenso e, portanto, inacreditavelmente diverso, e não estou falando apenas da sua extensão territorial; sob certos aspectos a sua diversidade é desconhecida dos próprios brasileiros...creio mesmo que é meio teórica a diversidade de que se fala quando são pensadas as políticas de inclusão, em todas as circunstâncias. Por esta razão, há que se ter cuidado com propostas que possam correr o risco de se tornarem inviáveis em consequência desse desconhecimento, porque a diversidade não ocorre por região (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste...), e sim em cada contexto, em cada pedaço de chão... Atualmente estou tendo uma das experiências mais inesperadas, mais emocionantes, mais interessantes, mas também das mais tristes, através de um programa de educação que oferece uma metodologia muito específica e rica para se trabalhar com as crianças e jovens do campo, em classes multisseriadas.
Sempre vi essa oferta com ceticismo por não acreditar que fosse pedagogicamente viável, aliás, achava que ela ia de encontro às teorias didático pedagógicas modernas, e que a aprendizagem fosse quase impossível de ocorrer em uma sala onde estivessem presentes alunos em estágios e ritimos diferentes; idades diferentes, e por ai vai...Entretanto, ao entrar em contato com a realidade dessas pessoas do campo, para as quais essa prática pedagógica se constitui a unica oportunidade de escolarização, e mais, comprovar que ela funciona, que torna possível o sonho de aprender de tantos brasileiros, comecei a questinar tudo o que aprendi em tantos anos como educadora, e o meu desconhecimento de questões tão sérias como essa realidade em que vivem tantos irmãos.

Se apropriado por poucos, o conhecimento perde a dialética com a vida, deixando de ser um processo emancipatório para tornar-se instrumento de desigualdade, que segrega os grupos sociais. Historicamente, no Brasil a educação dos jovens que se encontram excluídos do processo de escolarização quase sempre se pautou por uma vertente assistencialista e compensatória, através de projetos destinados a subgrupos, muitas vezes organizados em horários alternativos em escolas sem condições de funcionamento e sem preocupação com a qualidade, perdendo-se o compromisso de atender aos anseios das pessoas e distanciando-se dos anseios dos educadores, como responsáveis pela mediação no processo de aprendizagem.

Mas se vêm instaurando políticas que pretendem respeitar o direito constitucional dos sujeitos em lugar de ofertas quase subjetivas de educação, que implicam diretamente em financiamento direcionado, com previsão orçamentária e perspectivas de crescimento da oferta e a continuidade das ações, sendo importante dizer que as populações jovens que estavam fora da escola já se encontram incluída nessas políticas, com propostas de educação sistêmica, embora num tempo diferenciado, que considera os sujeitos em suas múltiplas dimensões.
Essas abordagens tratam da educação básica presencial, cuja busca é a inclusão, com qualidade, na rede de escolas do sistema público, visando que o jovem, além do desenvolvimento do sentimento de pertencer a um grupo em que possa se identificar através de valores culturais e históricos similares entre si em um processo dialógico com a comunidade, também abrindo perspectivas de desenvolver seu potencial pessoal para contribuir com o desenvolvimento regional, iniciado com o local/endógeno, no seu contexto de vida, porque esse modelo se estrutura a partir dos próprios atores locais, uma vez que é importante evitar o êxodo rural, e fixar em melhores condições o homem no local onde vive, para que ele não se veja obrigado a emigrar para outras regiões, apenas, porque não tem o necessário para uma vida digna.

Estou me referindo com mais ênfase a essa proposta de educação específica com a qual estou construindo relações, que é realizada através das classes multisseriadas e que eu classificaria, a priori, como especialmente compensatória na perspectiva referida acima, mas reavaliada como extremamente necessária, assim como única possibilidade de oferta, e possível de ser feita com qualidade, dentro dos limites impostos por inúmeras dificuldades, porque muito ainda precisa ser feito, embora o material didático seja muito bom, interessante e de uma qualidade que evidencia que se está tratando essas pessoas com a dignidade a´qual têm dreito. Assim, em sua gênese, essa oferta precisará estar consciente da importância em oferecer uma educação prioritariamente humanística através de sua proposta curricular, uma vez entendido o papel social da escola, que faça sentido, que considere atender aos anseios dos estudantes em relação a uma aprendizagem qualitativa, encaminhamento à busca de consensos, fortalecimento do sentimento de solidariedade, bem como da compreensão, valorização e transmissão crítica dos valores culturais, entre outros citados. Entretanto, se faz necessário não provocar distanciamento, através de uma visão romantizada do universo real em que esses jovens vivem; um universo cultural com códigos que servem de base para o olhar e as experiências de vida que têm, sendo importante que se esteja atento para esse ser real inserido, muitas vezes, precocemente no mundo da produção, e que seja respeitada essa condição de complexidade.
A priori, as políticas de educação não deveriam estar destinadas a grupos específicos, pois seu objetivo efetivo é combater todas as formas de desigualdades existentes e as formas que excluem os seres quanto à igualdade de condições dentro da diversidade, e das oportunidades. O atendimento às demandas específicas traz em seu bojo o perigo de se fechar à amplitude, privilegiando a uns e negligenciando a outros. No entanto, políticas includentes precisarão corrigir os descaminhos da universalidade a todo e qualquer indivíduo que vive em uma sociedade com elevado grau de desigualdade entre as classes, não significando que se diluam as diferenças entre indivíduos e suas questões de direito quanto à gênero, origem étnica, credo, idade, necessidades especiais, etc. As políticas específicas precisam se respaldar em estratégias que, considerando essas diferenças, possam oferecer igualdade de oportunidades amplas de acesso, ainda que considerando algumas vulnerabilidades de grupos que em sua trajetória histórica foram marcados pela exclusão, apresentando as consequentes sequelas da permanência prolongada nesse estado.

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