O ensino e a aprendizagem surgiram nas diversas sociedades como uma
consequência natural da necessidade de sobrevivência das espécies, pela
transmissão do conhecimento construído. Assim, o currículo surge como
necessário à organização desse conhecimento a ser repassado e como reflexo da
função social da escola, uma vez que nele estão fortemente presentes as
relações de controle social, relações de poder e reprodução de valores que
influirão na constituição dos sujeitos e suas identidades. Ele é o elemento
dinâmico da proposta pedagógica, devendo ser entendido como espaço de conflitos
que estruturam a vida da escola e como tal, um currículo precisa ser
democrático, acolhendo as relações e abrindo-se à produção de significados
próprios da comunidade onde ela está inserida, de forma a recriar uma proposta
pedagógica dinâmica, cuja linguagem inclua o olhar divergente, para produzir
resultados satisfatórios, já que deve estar ligado à como se estabelecem as
relações de ensino e de aprendizagem dentro dessas realidades.
Dessa forma, a proposta curricular não pode ter um modelo imposto, uma
vez que é um elemento vivo e, portanto, provisório quanto à sua temporalidade,
passível de ser revista e mudada, de forma a que possa incorporar novos
saberes, novas experiências e uma compreensão ampla e contextualizada de mundo
e das culturas que ampliam e fortalecem as identidades. Importante estar alerta
para não se perpetuar como um refém das leis, mas estar à sua frente oferecendo
uma educação de vanguarda, que possa refletir as novas dinâmicas sociais, as
tensões que demandam de uma sociedade mutante e a diversidade dos sujeitos; e
só então buscar seu referendo.
Entretanto, para que isso possa ocorrer será necessário que reflita a
forma de sentir e pensar dessa juventude que vive na contemporaneidade, cujos
pressupostos encaminham para a compreensão de se aliar a cultura ao trabalho,
tendo como princípio educativo um conhecimento que o conscientize quanto às
formas reais deste, inclusive a possibilidade de introduzir aí, a diversidade,
uma vez que, concordando com Miguel Arroyo, o mesmo tem gênero e tem raça (se
sabemos que o padrão é racista); tudo isso a partir de um conceito lúcido do
que seja juventude ou juventudes, como premissa.
Sabemos que a participação do sujeito jovem na dinâmica social não é
vista nem avaliada de forma ampla quando são propostas as políticas de
educação. É fundamental que outras dimensões do seu estar na vida, o seu
universo simbólico e emocional, não apenas a sua vida funcional, sejam
incluídos, de forma a que essas representações sejam mais legítimas e seu
contexto cultural possa ser reconstruído e representar seu modo de viver e
pensar.
Em muitas culturas existe uma tendência de se realizar estudos em que as
questões do jovem(s) são olhadas apenas como dilemas, o que termina por
apresentá-lo(s), tão somente, como um problema a ser encarado pela sociedade;
um problema para o qual há que se buscar solução; predominantemente quando se
fala em adoção de políticas para abertura do mercado de trabalho ou econômicas
de um país, ou mesmo, busca de formas para incorporá-lo(s) aos sistemas de
ensino, o fenômeno é sempre observado nessa ótica, o que tem trazido como
conseqüência, a ausência, em suas vidas, de oferta de conhecimento e oferta de
outras possibilidades; de bandeiras e de sonhos.
Para que isso possa ocorrer será necessário que se mude essa dinâmica e
o(s) jovem(s) possa(m) ser ouvido(s); é importante que se possa entender o seu
universo; como pensam e como gostariam de se expressar; assim, considero da
maior importância que o professor conheça quais os possíveis caminhos que o conduzem
à aprendizagem; quais caminhos subjetivos são percorridos, desencadeados pelas
profundas mudanças fisiológicas, psíquicas, conflitos emocionais, rejeição à
autoridade, ao próprio corpo, posicionamento quanto à sexualidade, à
necessidade de decidir sobre o futuro, para que a aprendizagem se efetive, vez
que é nesta fase que é obstado a definir para si um caminho profissional; por
todas estas, entre outras motivações, se torna extremamente difícil lidar ao
mesmo tempo, consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
Em que pese já existirem muitos trabalhos de educadores e pensadores
sobre a forma como se traduz o significado político e cultural de juventude(s)
e considerações do que é ser jovem(s), ela deve ser vista e analisada de
maneira bastante oxigenada e livre, se sabemos que os desejos, as necessidades
e a incorporação de novos conhecimentos são especialmente dinâmicos e mutáveis;
aberta e sem amarras ou preconceitos, vez que nenhum desses conceitos é rígido
e deverão existir momentos específicos para que se considere um ou outro, pois
precisarão ser consideradas questões vitais, como: situação sócio/econômica;
origem étnica; questões de gênero e religião, além de todas as vivências
citadas acima. Entendo de fundamental importância sejam observados os momentos
em se deve levar em conta o fenômeno “juventude” no singular e/ou no plural;
entretanto, o seu universo, seja como for, precisa ser considerado de forma
mais abrangente, apontar para a dilatação dos seus horizontes e estimular a
utopia.
Do meu livro: "A arte como possibilidade do desenvolvimento cognitivo"
Do meu livro: "A arte como possibilidade do desenvolvimento cognitivo"
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