Ao fazer a minha caminhada de
todo santo dia, exceto aos domingos, tive uma experiência nova, que, embora
simples, foi um verdadeiro exercício de percepção. Resolvi inovar e levei um
MP3 ou 4? (para mim não faz a menor diferença) com intenção de escutar um pouco
de música, como havia observado que muitas pessoas fazem quando caminham.
Coloquei os fones, liguei o aparelhinho e nada aconteceu; a magia de todas as
manhãs, mal punha os pés na pista de caminhada da orla, hoje, não foi a mesma.
Então, me dei conta, não sem alguma perplexidade, que estava fora do contexto
esperado; havia algo errado, e no primeiro momento nem pensei que fosse causado
pela música que entrava pelos meus ouvidos de forma compulsória, sem necessitar
reflexão... eu não estava lá, não éramos um... Ao olhar todo aquele espetáculo
da Natureza, senti que faltava algo essencial: eu não conseguia me integrar a
ele; eu não entrava na sua sintonia...me senti uma estranha àquele ambiente que
me recebe todas as manhãs encenando um espetáculo novo...sabia que ele estava
ali, mas era eu quem permanecia à porta. De repente me dei conta de que
ocorrera uma espécie de fuga daquela sonoridade tão inerente, tão orgânica;
compreendi que, além da observação visual, a presença daqueles sons suaves e
naturais que deixavam impressas em minha sensibilidade imagens tão fortes,
embora tão fugazes, capturadas e expressas nos meus "poemas impressionistas", neste verão de 2013, eram
fundamentais às impressões oferecidas pela visão. Comecei então a entender,
além da luz, como os sons se encaixam e compõem a obra; como sou influenciada por eles,
e como eles potencializam as impressões visuais, seja o latido dos cães vira
latas disputando uma cadelinha no cio ou a primeira refeição que o tratorzinho
da limpeza retira das praias; um grito ao longe trazido pelo vento ou
simplesmente o som que a brisa matinal
provoca nos meus ouvidos...Comecei a perceber
que cada elemento visual refletido nos meus poemas se integra ao outro
também pelo som que produzem individualmente, compondo uma sinfonia. Até mesmo o
som que a energia do sol, ainda que a uma distância infinitesimal, produz ao
vir afagar as águas do mar, uma espécie de murmúrio que posso perceber naquele
contexto, se integra a esse fantástico
mistério. Também percebi que se faz Literatura com todos os sentidos... e reafirmei a compreesão de que não existem limites para a Natureza, da qual
sou parte integrante e simbiótica, que sempre deixa em mim uma sensação de
eternidade...
Este espaço foi criado para me aproximar das pessoas que têm interesse pela poética, como um mundo de possibilidades a ser conhecido, inclusive, relacionando-o com as chamadas "exatas", que, veremos, não são tão exatas assim. Contém o meu pensar sobre cultura, ciência e sua relação com o mundo, e a chance de um olhar mais amplo sobre ele e suas questões. Está aberto aos comentários, às opiniões divergentes, às discussões e a tudo que nos permita essa amplitude.
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