De novo, na
volta do trabalho, vinha dirigindo calmamente à beira do mar e pensando que me
sentia um pouco como os grandes navegadores da história, pois vira os sete mares neste verão de 2013...
talvez só eu tenha pensado nisso em um tempo em que não se tem tempo para
coisas tão prosaicas. Pensei no grandioso espetáculo que quase se derrama sobre
nós todos os dias em uma belíssima e sensual orla marítima sem ser sequer percebido.
Espontaneamente, fiz uma analogia engraçada com um fato interessante que via
todas as vezes que ia dançar com meu companheiro: tratava-se de um homem já
bastante idoso que se apresentava, como num espetáculo, dançando sozinho uma
coreografia caprichada, que ninguém percebia...nós achávamos aquilo interessante
e nomeamos seu espetáculo como a ‘dança do acasalamento’. Esta é a sensação que
tenho todas as vezes que olho para o mar na solidão da urbanidade desta
Soterópolis, tentando seduzir a quem passa, sem receber sequer um olhar...mas
eu vi o mar através de todos os meus aguçados sentidos: deitada na areia da
praia da Pedra do Sal, silenciosa naquela manhã, divaguei e vaguei pelo azul
acima de mim, coberta pelo aconchego morno daquela enorme cúpula, tendo à minha
frente a linha de um horizonte que delineava a perfeita curvatura da terra, sem
um único obstáculo que corrompesse aquela perfeição; senti o delicioso cheiro
dos sargaços trazidos da minha infância; vi os pequenos diamantes e pérolas
desprendidos das caudas das sereias piscando para mim nas areias de Madre de
Deus; vi quando o sol, preguiçosamente e ainda embriagado pelo sono ocidental,
aguardava generosamente o repouso da lua, já quase totalmente cheia e pesada
como um ventre grávido; vi o imenso polvo ondulante repousado languidamente
sobre as areias entre as praias de Piatã e Jaguaribe; percebi o mar em tons de
cinza, dando a impressão de que sua concretude era afetada apenas por um leve
drapeado que desafiava a moça do vestido vermelho; também me dei conta da fuga daquela sonoridade tão inerente, tão orgânica;
compreendi que, além da observação visual, a presença daqueles sons suaves e
naturais que deixavam impressas em minha sensibilidade imagens tão fortes,
embora tão fugases, capturadas e expressas nos meus poemas impressionistas eram
fundamentais às impressões oferecidas pela visão. Comecei então a entender que
além da luz, os sons se encaixam e compõem a obra; e como sou influenciada por
eles, e como eles potencializam as minhas impressões visuais, ainda que por
um grito ao longe, trazido pelo vento ou simplesmente o som que a brisa matinal provoca nos meus ouvidos...E,
podem crer, eu vi, à minha frente, o sal na clara liquidez das suas águas azuis, aflorar em
graciosos e delicados arabescos à sua pele cristalina...
Este espaço foi criado para me aproximar das pessoas que têm interesse pela poética, como um mundo de possibilidades a ser conhecido, inclusive, relacionando-o com as chamadas "exatas", que, veremos, não são tão exatas assim. Contém o meu pensar sobre cultura, ciência e sua relação com o mundo, e a chance de um olhar mais amplo sobre ele e suas questões. Está aberto aos comentários, às opiniões divergentes, às discussões e a tudo que nos permita essa amplitude.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
Bom dia. Hoje são 26 de maio de 2023, ou seja, falei que estava voltando e a viagem de volta foi demorada...desculpem...foi falta de ânimo,...
-
De início, evidentemente, nos reportaremos ao período histórico do Brasil Colonial, situado entre 1500-1822, que se refere à invasão do ter...
-
Embora esteja um pouco atrasada nas postagens - e peço desculpas -, não deixei de pensar, de escrever, mas...é Carnaval... Ainda que, pessoa...
Um comentário:
Ah porreta! kkkk E tem coisa melhor que admirar o mar e divagar? Não tem né?
Seu maravilhoso texto nos leva para dentro do mar (eu mesmo virei Posídon (grego) ou Netuno (romano) aimôpi! kkkk)viajando em cada palavra lida...
Beleza de creusa seu texto! kkk
Madre de Deus, é? Ah bom... kkkkk
Eita mulher retada meu Deus! kkkk
O Sibarita
Postar um comentário