segunda-feira, janeiro 21, 2013

Uma sinfonia em seus mistérios; poema impressionista nº 2 (Guacira Maciel)

Hoje, o mar não tinha sargaços, nem ondas, nem aguardava o repouso da lua em seus insondáveis limites, no entanto, não menos belo nessa serenidade sem qualquer performance especial; era parte intrínseca do cenário da natureza em seus mistérios. Esse estar calmo, naquele momento, assemelhava-se a uma cama cujo lençol em azul profundo fora estendido por mãos tão hábeis, que não apresentava uma ruga sequer...ao longe os surfistas aguardavam pacientemente que no sono ele resolvesse revirar-se em seu leito causando algum movimento que pudessem aproveitar para deslizar em suas coloridas e parafinadas pranchas. O céu também resolvera apresentar a sua verdadeira face, límpida, em azul claríssimo, matizado pela luminosidade ainda fria do sol. Este, entretanto, oferecia nessa sinfonia, um espetáculo à parte, e aproveitando que as cortinas do palco permaneceram abertas, dançava sobre a superfície azul do leito marinho....na plateia estávamos eu e o sonolento polvo, cuja pequena cabeça lateral, como uma corruptela da Medusa, levantou-se também para presenciar o espetáculo enquanto “quentava sol”. A esteira luminosa deixada por aquela grandeza difusa, estendia-se profusamente até nossos pés, num um generoso convite do astro maior da companhia, a ocuparmos o camarote para assistir aquele show tão breve e indescritível à destreza de qualquer poeta, das tintas ou das letras... Seduzida por aquela magia, corri silenciosamente para não incomodar meu companheiro que repousava preguiçosamente de olhos fechados, entrei e mergulhei naquela esteira impermanente de pequenas gotas de luz...

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