quinta-feira, março 31, 2011

Nossas histórias...(guacira maciel)

É importante contar a nossa história, porque nós somos ela; nós e os fios que usamos para construir a nossa vida. É o que temos de nós mesmos; do que somos. Ela explica, um pouco que seja, as posturas que adotamos diante da vida; as nossas reações diante dos fatos, dos desafios, dos sofrimentos; dos nossos medos. A minha vida não é perfeita, mas entendo que tive a melhor de todas as razões; o mais importante referencial; o texto mais bonito, que é a história dos meus pais (parte dessa história eu conto em meu próximo livro "Cruz do meu Rosário"), transformado no fio mais consistente, que serviu de suporte à trama da minha própria vida (do meu texto): o amor. Peço desculpas se sou contraditória, mas aqui não cabem julgamentos; só refletir e rever posturas... Por certo uma bela ou feia história não deverá servir de desculpa para todas as nossas atitudes. Se, realmente, todos os filhos de criminosos também fossem criminosos, viver perderia o sentido. Creio na vida, no amor, nas pessoas. Não somos um fato consumado; somos imperfeitos, somos incompletos, ainda bem! A vida é algo vivo, mesmo correndo o risco de ser redundante, algo dinâmico; portanto , passível de ser modificada. Temos grande quinhão da nossa história, do nosso texto, sob a nossa responsabilidade nessa construção e podemos, sim, lançar mão de fios novos e fortes para (re) construir (tecer) sua urdidura e sobre ela (re) escrever um belo texto; um texto nosso e novo, selecionando os melhores e mais antigos fios que pudermos. Precisava contar essa história, não como verdade, mas como referência para o que aqui se pretende: identificar raízes bastante remotas sobre o amor, suas motivações mais íntimas, necessidades, comportamentos diante da constatação de inutilidade das nossas vontades e seu controle, desvios dos padrões em relação a outros sentimentos que o permeiam, formas diferenciadas de amor e de amar, e as consequências de tudo isso. Vem se constituindo um debate íntimo a análise dessas contradições para as quais não tenho nem terei respostas. Não gostaria de ser submetida a um patrulhamento por parte de intelectuais e psicólogos , porque a arte não pretende explicar nem comprovar verdades. Gostaria de ser lida e incitar o debate entre pessoas comuns, essas... consideradas ingênuas, que, como eu, se deixam inocular, se deixam afetar por sentimentos simples. Não creio existirem fórmulas para debater essas questões, porque cada um terá seu jeito próprio de amar e de pensar o amor; esse é o meu. Ao expor minha visão sobre o amor, não tenho uma finalidade prática imediatista, e sim estabelecer o espírito de comunhão, que, aliás, se constitui uma das funções da arte. O meu discurso aqui é muito mais poético, graças a Deus. Espero que as pessoas possam ler o que escrevi, porque preciso de outros olhares e referências para minhas reflexões; preciso continuar... Preciso que entrem na minha pele, na minha cabeça e procurem entender, não as minhas razões e questionamentos, mas as suas próprias. Sei que cada um que leia essas reflexões terá um olhar e um sentimento sobre tudo isso e depois sobre o seu próprio sentimento e assim, poderá refletir sobre a possibilidade de aceitação intima, intrínseca da diversidade dos textos e texturas, pelo exercício de percepção do diferente e possam também estabelecer elos para a comunhão. Escrevo para falar do que sinto, vivo e percebo, com o objetivo de estabelecer uma comunhão, partilhando as minhas experiências, embora ao fazer isso, interprete e subjetive. Entretanto, entendendo que a vida é um paradoxo, tão vulnerável, tão cheia de brechinhas, que a princípio a gente nem percebe... Mas pode ser que um dia eu escreva ficção. Embora mesmo a ficção tenha a sua gênese em uma - pelo menos - verdade ou necessidade íntima. Dizem que os poetas fingem; não entendo assim. Os poetas não fingem; eles têm o dom de revelar o que está sob um véu, de trazer à tona... Os poetas transcendem e transitam naturalmente em diferentes dimensões sem perceber seus limites; eles transitam nas dimensões que, dizem, dividem o tempo, aquele não lugar...bagunçando seus limites. Para o poeta o infinito é o aqui e agora, porque é agora que seu coração pulsa, que seu corpo lateja e isso transcende o tempo, fendendo suas fronteiras com a força de um azougue. “A arte é um modo extraordinário de ser real”( não sei quem disse isto). Numa crônica que vocês não conhecem, falei sobre a universalidade comparando uma verdade matemática (concreta) e uma verdade subjetiva; retorno aqui e vocês poderão saber do que falei. O amor e a lógica matemática são, ambos, verdades universais; entretanto, em um poema falo de forma a que cada um que o leia, embora percebendo que falo do amor, vá fazer relações e reflexões a partir da sua própria verdade íntima (tenha sido boa ou ruim como experiência) e assim, tenha a oportunidade de perceber, na diversidade, a mesma coisa universal. Quanto à matemática, acho que só posso entender de uma forma, ou não resolvo o problema - e nunca resolvi, mesmo... - sempre fui péssima nisso; por esta razão , esse é o problema: razão – nunca consegui resolver um deles sequer, na aula de matemática. Sempre se constituíram uma tortura. O amor, não; lançamos mão de simples atitudes, simples gestos e os transformamos em coisas significativas, em atitudes grandiosas até; belas. É como se ao tecer (ou escrever um texto) com simples cordões, ou fios crús, tenhamos a capacidade de transformá-los em fios de ouro, brilhantes, cheios de luz. O amor precisa ser assim... Em todas as histórias se identifica essa possibilidade, essas relações que procuro estabelecer entre tecer uma trama enquanto base - sustentação - elaborar o pensamento para construir um texto, e os sentimentos, tendo o amor como resultado elaborado, mas que poderá ser afetado por outros fios que poderão já ter pertencido, ou ainda façam parte, a outro texto. A mim parece que o ato de fiar, como o de criar um texto, ou sentir amor, tem algo a ver com, simplesmente, sair da realidade cotidiana e percorrer caminhos etéreos, elaborar com o imaginário. Partimos do real – fazemos parte dele, somos ele – desaparecemos, mergulhamos em outra dimensão e retornamos com o resultado, o novo texto. Discordam de mim? Fui ingênua? Fariam conclusões diferentes das minhas, eu sei... Reflitam sobre tudo isso, por favor...

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