domingo, fevereiro 13, 2011

Educação. Por falar nisso... (guacira maciel)

" O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros" (Paulo Freire).

A centralização da gestão institucionalizada de forma irrestrita e indiscriminada dos Sistemas Públicos de Educação, assim como as políticas públicas voltadas para a educação básica, especialmente o segmento médio, obrigatório, além de ferir a autonomia das escolas, também o faz em relação aos estudantes e à construção do conhecimento, refreando o estímulo ao desenvolvimento do capital intelectual, o desenvolvimento pessoal dos atores sociais e históricos no seu contexto de vida, e muitas vezes impossibilitam a exploração da economia interna gerada no íntimo da escola como um exercício da prática do protagonismo e do autodidatismo.

Interessante seria uma pausa para reflexão...a escola não está dando as respostas esperadas, os jovens não estão aprendendo...então é preciso buscar a "razão" (tudo tem uma razão e uma lógica) de tudo estar acontecendo dessa forma...inesperada? não sabíamos que os resultados chegariam a esse patamar?

O mundo mudou, mas os sistemas ainda não perceberam; os jovens e até a escola perceberam, mas estão engessados, porque submetidos a propostas que não refletem as necessidades dos contextos. Esta semana a Globo News lançou a proposta de uma série especial sobre Educação e, embora o foco não seja discutir/debater essas questões com a sociedade, o título tocou um sininho em minha cabeça: "Educação sob medida"...exatamente isso! a educação precisa acontecer sob medida!! E o que significa "sob medida", na minha cabeça?

Sob a perspectiva pedagógica? Vejamos... Com a uniformização das propostas de educação básica, o sistema se torna tão ferozmente institucionalizado que fecha o olhar para as necessidades específicas de cada contexto, para o estágio de desenvolvimento cognitivo dos sujeitos, e essa interferência inviabiliza e imobiliza as propostas, criando um contexto de dificuldades pedagógicas e de operacionalização tão refratário que esse mesmo sistema perde a condição de auto gerir-se; perde a sua funcionalidade...Em consequência, também as necessidades mais básicas, como o quantitativo de professores com formção específica em sala de aula (notadamente aqueles da área de Ciências da Natureza, incluindo-se Matemática, de acordo com os PCN, Parâmetros Curriculares Nacionais), que migram para outros postos profissionais, ou a total ausência de profissionais de algumas disciplinas, o que conduz a desdobramentos também nocivos, como o quantitativo cada vez maior de estudantes por turma; aliando-se a estas questões, temos outras, como a ausência de coordenadores pedagógicos, formação continuada precária com oferta, algumas vezes sem qualidade, de outros sistemas através de EAD (Educação à Distância); carga horária pesada, que leva à falta de tempo para estudar e planejar; os baixos salários, que obrigam os professores a trabalhar em várias instituições; precaríssimas instalações físicas das escolas. Tudo convergindo cada vez mais para o distanciamento da busca e da manutenção da qualidade da educação.

Essa situação termina por deixar unicamente nas mãos dos jovens a responsabilidade de aprender, de construir conhecimento, quando esse é um processo interativo, de parceria entre ele e o mediador da aprendizagem, que é o professor, até por ser este um ator mais experiente.

De qualquer forma, se falarmos da vida como ela é...toda essa problemática encaminha compulsoriamente o jovem a tomar a iniciativa de aprender; encaminha-o para outra forma de protagonismo e autodidatismo, que terminam por se constituir caminhos tanto mais difíceis, quanto mais recionais de aprendizagem, uma vez que nenhuma escola tem condição de oferecer em sua proposta uma educação universal, já que a aprendizagem ocorre nos diferentes espaços em que os sujeitos vivem, embora ela possa, isto sim, propiciar as condições para que cada um aprenda a transformar suas experiências em aprendizado, ao extrair-lhes o substrato, de acordo com seus projetos pessoais, sendo preciso que para isso a oferta consiga interpretar as demandas sociais, conduzindo-os a uma postura crítico social dos conhecimentos que vão sendo aprendidos.

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