quarta-feira, novembro 25, 2009

"A bofetada..." (guacira maciel)



Até agora nunca havia pensado em escrever nada relacionado com a dramaturgia sob qualquer aspecto e muito menos sobre novelas de televisão, porque é um assunto que não ocupa a minha cabeça e também porque não tenho paciência para acompanhá-las por meses a fio...
Porém, como por acaso havia assistido o capítulo “da bofetada”, no domingo, em frente ao mar, pude participar de um papo bem interessante sobre a questão, envolvendo o ultimo número (47 de 26 de nov. 2009) da Revista Veja, e fui acometida de uma estranha comichão que me levou a fazer estas ponderações aqui, acerca de algumas questões recorrentes no cenário brasileiro, a partir da novela “Viver a vida”.
O mote da nossa discussão foi o posicionamento, “no site da CUT, da Sra. Maria Júlia Nogueira, secretária da central sindical” de que “a Globo humilha os negros no mês da consciência negra”, trazendo à tona, mais uma vez, essa incapacidade de superação que mantém reféns pessoas que precisam por si mesmas se sentir iguais, sem nenhum sentimento de comiseração por parte de outrem. Pois não é isso que buscamos no nosso país mestiço? Não é essa consciência de igualdade entre os seres? Por que, então, sempre tendemos a voltar no tempo, parecendo que gostamos de nos sentir menores?
Por maioria as pessoas do grupo, indignadas, consideraram um despropósito o comentário dessa senhora. A um dos presentes, negro, pareceu que fora do mês da consciência negra seria admissível tal desrespeito(? ). Para ela a bofetada levada por Helena a colocaria numa posição qualificada como tipicamente do escravo em posição de submissão diante do escravizador(?). E por que, quando ela (Helena) deu um sonoro tabefe em sua chatíssima enteada, Luciana, ninguém manifestou qualquer sentimento de abuso, ou de segregação?

O diferencial é que a atriz que encarna Helena foi escolhida para protagonista em um horário nobre, representando uma mulher de sucesso numa carreira difícil, sem ter tido necessidade de levantar nenhuma bandeira; só isso!
Agora, achei de péssimo gosto (no mínimo) um ser humano se quedar ajoelhada diante de um semelhante a pedir perdão...horrível, seja o sujeito da etnia que for! até porque, ambas estavam impregnadas de dores anteriores e, portanto, de culpas intimas, pessoais, não cabendo ali tal pedido. Por que Tereza (a ex mulher) colocou sobre ombros alheios tamanha responsabilidade? na verdade, por ter identificado em Helena uma culpa muito semelhante à sua? Muita coisa a ser repensada...
Entretanto, uma outra análise, isenta, precisa ser feita acerca do trabalho da atriz (que encarna Helena), até agora sem qualquer consistência, em que pese seus bons desempenhos em trabalhos anteriores, principalmente um bem recente, na pele da dolorida e rebelde filha de um personagem muito conhecido da vida real brasileira, o corrupto político (um deputado.....). A Helena vem sendo representada com absoluta brandura (em uma nota só), fato que atribuo ao pouco tempo para elaboração interna das boas experiências anteriores vividas pela atriz, de forma a que pudesse amadurecer o necessário para protagonizá-lo com plenitude.
Aliás, não fora a percepção (ou não) do autor de precisar conferir mais dramaticidade ao papel da moça - que já implorava o próprio óbito, e nem digo-o por causa das Helenas anteriores, quem sabe até sofrendo ela mesma, o acidente em lugar da mimada Luciana - terminando por dar uma guinada no destino da novela, a nossa Helena, de qualquer jeito, terminaria por morrer afogada no próprio vale de lágrimas...

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