quarta-feira, setembro 13, 2006

Física Quântica e Poética (guacira maciel)

Há poucos dias ouvi de um amigo que a psicanálise estaria buscando novos caminhos em vista dos grandes, profundos e rápidos avanços no contexto de vida da ciência e do mundo contemporâneo. Depois recebi uma mensagem contendo uma síntese do filme "Quem somos nós", em que se discutem formas de encarar o mundo e sua relação com a física quântica, enquanto uma ciência de possibilidades. Fiquei duas noites quase insone pensando sobre o assunto. Tenho formação artística e sou poetisa, portanto tenho uma forma muito peculiar de sentir o mundo, mas raciocinei: se a física quântica é uma física de possibilidades, tem tudo a ver com a arte, com a poesia, que também nos oferecem inúmeras possibilidades para "explicar" o mundo e nossa relação com ele.
Peço perdão à ciência e aos cientistas, mas pesquisei sobre o assunto e algumas dessas leituas deixaram-me mais confusa. Entretanto, continuei com a certeza de que eu e a física quântica tínhamos algo em comum, porque Haisenberg (1955) disse que a busca da física contemporânea não é mais oferecer uma "imagem da natureza" e sim das nossas relações com ela. Outra coisa que achei interessante é que, como não tem caráter determinístico, ela sofre muito a interferênia do observador, que é quem define o que estará sendo medido e saberá o resultado que se obtém com determinada medida. E mais, E.P. Wigner disse que "foi necessário a consciência para completar a mecânica quântica", já que certos efeitos podem fazer parte do funcionamento do cérebro e, portanto, se envolverem na manifestação da consciência, uma vez que efeitos quânticos são fundamentais para descrever a "emergência ou geração do eu consciente".
O observador como elemento integrante, integrado e integrador relativisa o racionalismo desenvolvendo com a ciência uma relação de dualidade que a manterá em constante busca de sua unificação e da construção de uma teoria que dê uma resposta definitiva sobre a origem de tudo.Entretanto, embora entendendo que buscar pressupõe abrir novos caminhos, também entendo que essa resposta definitiva jamais será encontrada, se sabemos que as partes lidam com possibilidades.
Diante de todas as considerações anteriores, penso que a psicanálise não terá outro caminho para explicar as questões referentes aos seres humanos em suas relações, senão pela poética; dessa forma proporia que psicólogos e psicanalistas pudessem realizar uma parceria eficaz com poetas, e que os currículos dos cursos de graduação e pós-graduação da área em questão, incluissem a poética como disciplina obrigatória.Tudo isso, simplesmente, porque os poetas têm uma visão de mundo que atende a pressupostos dessa ciência contemporânea: a visão quântica, isto é, eles têm como campo de ação o mundo das possibilidades.
O poeta não se refere ao olho ou ao cérebro quando percebe; refere-se ao olhar; à percepção na dimensão do querer e do poder( na perspectiva do realizável). Então, se cria a realidade, o poeta pode entender uma cadeira como não sendo, necessariamente, uma cadeira como a maioria a entende e sim um leito ou braços ou seios que acolhem corpos cansados; uma mão poderia ser uma concha..ou asas...
O olhar tem a ver com o sentir, que parte da sensibilidade, transformando a realidade pela minha interferência, o que traz uma espéciede virtualidade, como um sonho, uma mágica! Aliás, tudo isso é uma fantástica mágica a ser PERCEBIDA!
Cada vez mais me apaixono pelo Criador por inumeras razões.Cristo conhecia a física quântica e cansou de nos dizer isso no Evangelho. Além de flutuar sobre as águas, Ele induziu o incrédulo Pedro a fazê-lo (Mateus,14;26-31). Dentro do princípio da física quântica é preciso crer para afetar profundamente a realidade e fazê-la ser; acreditar ser possível é determinante, mas se entendermos ser a realiade algo acabado, concreto, realizado, não podemos interferir. A realidade é minha possibilidade de fazer acontecer, a condição de perceber, mas não o que vejo com os olhos ou o cérebro em tempo real; trata-se da condição de subjetividade do tempo, já conhecida por Santo Agostinho.
É sabido que só conhecemos uma terça parte do potencial do nosso cérebro; já pensaram qual o receio do Criador quando só aos poucos nos permitiu o acesso a essa fantástica máquina? Eu já. Na verdade, se já tivéssemos conhecido todo o seu potencial, tudo do que ela é capaz, do jeito que somos perversos enquanto humanidade(sujeito coletivo), o que já não teríamos feito uns contra os outros? Já pensaram do que seremos capazes quando deixarmos de ter medo de pensar, quando alcançarmos a leveza interior necessária? Ah! o Criador é, indiscutivelmente, Onisciente ( e quem não crer pela simples fé, o fará pela comprovação, como S. Tomé - voltando ao Evangeho) e está esperando que os sofrimentos nos tornem mais sensíveis, menos prepotentes e mais crédulos, para só então nos permitir conhecer um mundo em que absolutamente tudo já é possível !

Um comentário:

Guacira Maciel disse...

Prezado professor,
Muito me honram os seus comentários sobre o meu texto. Sem dúvida alguma, sendo o homem o sujeito da história, todas as condições de realizar e de mudar, estão "permitidas" (ele só precisará perceber). Mas entendo, que a partir dessa mundo "novo", ao qual precisam ter acesso para conhecer o quanto de possibilidades está imlícito nessa condição, o nosso "estar" na VIDA e, consequentemente, na história, terá uma trajetória diferente.
Entretanto, questiono o que chama de "tempo de Newton", como não tendo influência do homem, porque aquele seria o "olhar" dele, sim, sobre os fenômenos, uma vez que estes sofrem a infuência do observador, como nos sinaliza a Física Quântica. Quer dizer:na verdade, o que ocorreu nas experiências da Física que, hoje, chamamos Clássica,era o que Newton, especificamente, esperava que ocorresse; nem mais nem menos, porque era fruto do conhecimento que detinha à época, sobre essas questões.Isto é, aquele resultado já era esperado por ele...
Guacira Maciel.